É tão bom quando você se pega rindo sozinho de alguma coisa. Não é porque é sexta-feira, mas hoje me flagrei às gargalhadas no carro indo trabalhar. Tudo começou quando o âncora da rádio CBN avisou sobre a mudança para o horário de verão na noite do próximo sábado para domingo. Todos teremos que adiantar uma hora no relógio. Até aí nada demais né? Aí que você se engana! Essa uma hora de diferença pode fazer um verdadeiro estrago na sua vida.
Há mais ou menos cinco anos atrás, eu e minha inseparável amiga, Maria Clara, sentimos na pele o que uma simples mudança por conta do horário de verão pode causar. Mas isso era apenas uma prévia do que estava por vir.
Maria Clara: cúmplice de todas as horas |
Por mera coincidência da vida, nós duas brigamos no mesmo dia com os até então respectivos namorados. Brigas avassaladoras que nos obrigou a planejar uma pequena vingancinha. Talvez uma equação não muito boa no fim das contas: véspera de feriado + mochila nas costas + buzão para Búzios + sede de vingança = merda. Não podia dar certo...
A lógica até que fazia sentido. Não tínhamos dinheiro para pagar pousada, então era preciso escolher entre ir à praia em Geribá e voltar para o Rio (derrota total) ou ir só à noite para curtir uma noitada na Privilége. Vamos pensar o que irritaria mais os tais namorados... Privilegeeeeeeeeee!!! Uhuuuulll, lá se foi Fernandinha e Maria Clara direto para a rodoviária à noite crentes que iam bombar em Búzios.
No ônibus foi só felicidade. Cervejinha, fofocas, dilemas sobre qual das dez opções de roupas iríamos usar e blá blá blá. Ao aterrissar no balneário da vingança, nos demos conta de que não tínhamos lugar para nos trocar. Mas isso não era problema para a dupla mais sagaz do Rio de Janeiro.
Andamos horrores pelas malditas pedras do centro até encontrarmos uma mini pousada, quase um albergue, a única que ainda tinha um quarto vazio em plena véspera de feriado. Só que o quarto não estava tão vazio assim. Um gringo que tinha feito reserva podia chegar a qualquer momento, mas nós só queríamos um chuveiro e espelho para nos arrumar. Precisávamos de meia horinha, apenas isso. Só que nesse meio tempo o gringo chegou. Convencemos o carinha a nos alugar o quarto por 30 minutos. Pagamos uns 50 reais ao espertinho e corremos contra o tempo para realizar o milagre de nos emperiquitar em tempo tão recorde.
Conseguimos! Prontas, lindas e felizes! Mas e as mochilas?? Como chegaríamos no meio da galera entrando de mochila na night? Não ia rolar. Corremos para a porta da Privilége e agradecemos a Deus porque ainda estava vazio. Mas estava tão deserto que os seguranças nem sequer tinham aberto a boate ainda. Imploramos, quase subornamos para que a gente pudesse se esconder lá dentro antes das pessoas começarem a chegar. Mais uma vez conseguimos! Jogamos tanto charme que ainda ganhamos pulseirinha vip. As mochilas foram direto para o guarda-volumes e pronto, a noite era nossa!
Começou a encher, até demais. Alguns atores de Malhação resolveram nos impregnar. A noite era nossa, mas os malas achavam que era nossa com eles. Nossa vingança obviamente não previa traição. Era apenas uma fuga louca para outro lugar, uma prova de independência, liberdade e isso bastava. A música também não ajudou. Estávamos numa rave e não sabíamos. Quando nos demos conta, as duas estavam decrépitas sentadas na boate contando os minutos para chegar a hora de pegar o ônibus de volta ao Rio. O horário marcado para sair era às 6h da matina, mas ainda eram 3h e já estávamos exaustas de saco cheio.
Esperamos até às 5h, pegamos as mochilas, à essa altura já nem aí para quem ia ver a cena bizarra e pensamos: temos uma horinha pra comer alguma coisa no Bob's e depois aguentamos só mais meia horinha andando até o ponto do ônibus. Quando estivéssemos lá dentro, era só relaxar e dormir até chegar devidamente vingadas no Rio de Janeiro.
Sentadinhas no Bob's ouvimos de leve alguém perguntar as horas para a mulher do caixa e a resposta foi: "como acabou o horário de verão, tem que voltar uma hora no relógio, então agora são 4h". Tentei não acreditar no que estava ouvindo. Maria Clara indignada foi até o balcão e quase implorou para a moça dizer que era tudo mentira. Mas não. Era a mais pura verdade! Esquecemos que exatamente naquela maldita noite ia rolar o maldito fim do maldito horário de verão, portanto passamos a ter que esperar duas horas pelo ônibus, sozinhas, de mochila nas costas e salto alto na Rua das Pedras.
Se você acha que isso é estar na pior?? Porraaannn, é porque você não sabe o que ainda vem pela frente. Após uma interminável caminhada até o ponto, paramos na portaria de uma pousada que nos acolheu nesse momento terrível de longa espera. Minha amiga querida fez o favor de apagar no sofá e eu fiquei refém do porteiro que não parava de falar. Me tirou pra psicóloga e resolveu contar toda sua vida. Quando estava prestes a gritar socorro, me tirem daqui, finalmente vi lá no horizonte o ônibus vindo em nossa direção, quase uma miragem.
O dia já estava claro e o sol começava a ferver na pele. Mesmo depois de toda a noite infernal, conseguimos saltitar de alegria até o ponto. A felicidade de poder ir para casa é inigualável. Poréeeemmmm... Entre um saltitar e outro, um carro cheio de garotos suuuuuper normais passou por nós igual uma flecha. Mas esse um segundo que eles nos viram passando foi o suficiente para frearem bruscamente e terem a brilhante ideia de dar uma ré em altíssima velocidade e passar aqueeeela cantada básica. Que malandros! O carro voltava em ziguezague e logo vi que aquilo não ia dar certo. Pois é... Os malandrecos bateram com força total na traseira do nosso maldito ônibus, estouraram o carrinho do papai e destruíram o tanque de combustível do ônibus. Sendo assim, tivemos que esperar mais duas horas até chegar o próximo. Choramos...
No fim das contas conseguimos voltar. Estressadas, arrasadas, destruídas, porém vingadas! Hoje, quando lembramos dessa história mirabolante, gargalhamos até nos acabar e foi o que me fez começar minha sexta-feira sorrindo. Então, quando você achar que está na pior, lembre-se: com o horário de verão tudo pode mudar.