sexta-feira, 4 de novembro de 2011

É nos menores frascos...

Hoje é a comemoração de aniversário de uma das minhas melhores amigas de toda a adolescência. Você deve estar se perguntando o que tem demais nisso, né? Tem tudo porque ela simplesmente é a prova de que nos menores frascos realmente estão os melhores perfumes. Mas nem sempre foi assim...

Eu a chamo pelo sobrenome, Nucci, porque ela é minha chará e durante alguns anos tivemos que conviver com o desparato de ser conhecidas apenas pelo sobrenome por causa da total falta de originalidade de nossos pais, que nos proporcionaram estudar num colégio com simplesmente mais de dez Fernandas na mesma turma. Para ela e todos os outros alunos do Santo Agostinho não sou a Fernandinha, nunca fui a Fê e muito menos a Fernanda. Serei eternamente a Novaes. Eu mereço...

Mas voltando à Nucci, nos nossos áureos 16 anos ela era um dilema na minha vida. Amiga de todas as horas, divertida, um verdadeiro crânio no colégio, me salvou de muitos perrengues com as provas quase impossíveis de química, física e matemática. Ela foi meu anjo no Santo Agostinho. Sempre entrava de férias muito antes de todo mundo, porque antes de fechar o ano a espertinha já tinha esculachado em todas as matérias. O problema da Nucci definitivamente não eram os estudos. Eram as nights.

Época de W, Studio 54, Méli Mélo, Prelude, Dado Bier e por aí vai. A night no Rio de Janeiro bombava, mas nosso sonho de conseguir burlar a lei que veta a presença de menores de 18 anos estava muito longe de ser realizado. Minha casa era uma verdadeira fábrica de identidades adulteradas. Tentamos de tudo. Minha mãe também se empenhou no desafio. Todas nós nos reuníamos no meu quarto e começavam mil tentativas de fazer a carteira perfeita para conseguir entrar nas boates.

Xerox atrás de xerox, scanner à rodo, impressoras coloridas de alta resolução, tesoura, cola, agulhas para a simulação dos malditos furinhos que marcavam a foto, tudo. Empenho não faltou. A cada final de semana tentávamos uma nova alternativa mais aprimorada de falsificação. Até que finalmente conseguimos nos profissionalizar como falsificadoras de documentos. Era a hora de tentar entrar nas festas.

A W era a mais tranquila. O segurança gostava da gente. Mas a Méli Mélo era um grande desafio. Eu entrava, a Deborah também, a Bruna não precisava nem mostrar identidade, mas a Nucci... Pequenininha daquele jeito, não enganava ninguém, sempre era barrada e pronto, fim de noite. Como todo mundo era amiga solidária, dávamos todas a meia volta da derrota direto pra casa, sem o gostinho de nem ouvir o começo da música que bombava lá dentro. Sem falar na humilhação de ser obrigadas a voltar, passando por toda aquela fila enorme (cheia de gatinhos), dando atestado de pirralhas barradas.

Só que a verdade é que os seguranças não sabiam que estavam barrando da festa uma menina baixinha, mas um furacão de mulher. Era um verdadeiro desperdício deixá-la de fora. Não davam a oportunidade dos gatinhos da fila sentirem o poder da fragância.

Agora ela está fazendo 28 anos e até hoje ainda se incomoda com as dúvidas sobre sua idade. Mas como dizia minha mãe: "um dia vocês todas vão ter 40 anos e ela vai tirar onda de 20 aninhos". Eu ria e agora me dou conta de que era a mais pura verdade. Em breve vou precisar dessa fragância.

Barradas no baile: Novaes, Nucci e Deborah