segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Michael Moore para presidente!


Ele é irônico, sarcástico, inteligente, observador, polêmico e sem dúvida, muito corajoso. Michael Moore mais uma vez surpreendeu e me fascinou com o filme "Capitalismo: Uma História de Amor". Se você não viu, faça um bem a si mesmo: veja! A cada filme dele que assisto fico mais inspirada a buscar entender a verdadeira face dos fatos e não me deixar mais ser levada pela persuasão da mídia. Ele me faz enxergar nossa tendência estúpida a nos submeter como fantoches aos interesses do governo.  Como jornalista, não seria adequado da minha parte ir contra a imprensa, mas questionar as informações que recebemos todos os dias é saudável e acima de tudo, necessário.

Eu já tinha uma noção de que a crise norte-americana fez realmente desaparecer a classe média, dividindo o país entre aqueles muito ricos e os muito pobres. Minha mãe morou na Califórnia por muitos anos e o marido dela está lá até hoje sobrevivendo ao caos instalado pela Era Bush. Eles e os amigos representavam bem o que era a extinta classe média americana. Viajavam todo ano, tinham carros, casas bem decoradas, bons empregos, bastante tempo livre para descanso e entretenimento. Inclusive, muitos deles, até mesmo meu padrasto, podiam viver perfeitamente apenas de música. Shows de jazz tocando com amigos nos mais diversos restaurantes e festas incríveis da Califórina. Uma sintonia divertida que passava pelas comemorações na casa do grande Clint Eastwood até jantares ao som do mais sofisticado jazz e blues no Hotel Ritz de Monterey. Todos se divertiam, ganhavam muito bem e por isso, viviam a ilusão de que eram felizes.

Foi isso que vivi na Califórnia durante os anos de vida da minha mãe. Obama foi apenas uma luz no fim do túnel, um lapso de esperança, o povo tinha sede de mudança e acreditou. "Yes, we can!", gritavam todos juntos com o único homem que parecia ser capaz de mudar a lama em que o país se afundou.

No dia em que Obama foi eleito, eu estava lá. Fiquei tão emocionada com a reação ingênua e surpresa daquela multidão que se aglomerou nas ruas de Berkeley e San Francisco, que quase me senti uma americana nata. As esquinas que sempre ficavam desertas após às 18h, agora estavam cheias de jovens, idosos, crianças, casais pulando de alegria, soltando fogos, bebendo cerveja no meio da rua (o que é extremamente proíbido), tirando fotos e filmando para registrar um momento histórico daquele país. Eu participei, gritei e cantei, o que me parecia tão comum quanto a felicidade rotineira dos brasileiros nos blocos de carnaval. Provavelmente aquela era a primeira vez que aqueles americanos se aventuravam a ir para as ruas brincar e comemorar alguma coisa. Obama trouxe um momento de brasilidade para aquelas pessoas. Aquele movimento pelas ruas de todo o país, até mesmo em Nova York lá na outra costa, era vida, pulsação de alegria, era Brasil!

O discurso do Obama todos sabem, foi inesquecível. Eu que nunca vivi naquele país e sinceramente, mal me arriscava no inglês, pude compreender cada palavra, cada gesto daquele homem e pude chorar com os sábios dizeres da vitória que antes de ser dele, era do povo.

Mas o tempo passou, a esperança foi se esvaindo, a sujeira foi ficando mais preta e no fim das contas, após três anos de governo daquele que acreditamos ser o herói da nação, nada mudou. Aliás, mudou sim e muito! Desde então, meu padrasto conta nos dedos quantos trabalhos consegue num mês, os amigos todos perderam seus empregos, outros enfrentaram a falência de suas empresas, se mudaram para apartamentos mínimos, entraram em depressão, não conseguiram evitar que a crise atingisse até mesmo seus casamentos, se divorciaram e convivem a cada dia com a triste cena de lojas e restaurantes fechando e pessoas sendo despejadas de suas próprias casas.

Isso era o que eu já sabia. Só que Michael Moore me mostrou essa mesma realidade em outros estados bem diferentes e distantes da Califórnia. Não imaginava que a mesma cena se repetia em todo o país. Mas o filme não se restringe ao flagelo dos novos pobres e aí que está a grande sacada. Com muito conhecimento nos bastidores da política, Michael Moore escancara o outro lado da moeda: como essa crise foi uma verdadeira jogada do governo e de altos executivos de bancos e de grandes empresas para enriquecer ainda mais às custas do dinheiro público. O tal pacote de "resgate" aos bancos que "beiravam à falência" foi aprovado forçadamente pelo governo com o objetivo único e exclusivo de enriquecer ainda mais os banqueiros. Enquanto isso, milhares de pessoas perderam seus empregos, suas casas e até suas vidas. Essa é a grande e verdadeira depressão dos Estados Unidos.

Ao acabar de ver o filme, depois de Michael Moore conseguir fazer crescer em mim o sentimento de revolta e indignação contra o sistema selvagem do capitalismo, resolvi assistir ao filme brasileiro "Assalto ao Banco Central". Coincidências à parte, curiosamente tive vontade de aplaudir a ação dos ladrões que roubaram daquele que mais rouba da gente. Impostos altíssimos, dinheiro público desviado, multas e juros ofensivos, tudo isso é a realidade do capitalismo sujo aqui no nosso Brasil. Ficamos reféns e ainda temos fôlego para pular o carnaval ano após ano; multas após multas; assaltos após assaltos. Confesso que agora a ideia de roubar um banco não me parece tão absurda assim. O que me falta é coragem e claro, aptidão. Como diria Allan Poe, "mas afinal, o que é um assalto diante do que é um banco?".