Saudade é um sentimento que me causa muita estranheza. Está numa linha muito tênue entre o bom e o ruim. Ela aperta o coração, mas também causa disparos, provoca aquele friozinho na barriga e faz doer em cólicas. É chorar e rir, pensar, sonhar e muito mais do que reviver lembranças, é o desejo inconveniente de tirá-las do passado e trazê-las direto para o presente. Tem algo mais contraditório? É um mix de sentimentos num bolo só, tão confuso que nem outras línguas conseguem traduzir.
Vinícius de Moraes, como eu já disse o homem dos meus sonhos, escreveu lindamente que saudade era tristeza, mas em sua poesia virou beleza. Ele via melancolia, enquanto outros consideram um suspiro de amor, uma lacuna que nos dá oxigênio para querer cada vez mais.
Ele escreveu a antológica canção mãe da Bossa Nova, "Chega de Saudade". Não suportava a distância porque o tirava a paz. Mas se não fosse a saudade será que o vontade de encontrar seria assim tão imensa e avassaladora? O tão sonhado encontro é a junção do fim da saudade com a sensação de desejo realizado. É o ápice das emoções de uma só vez, num único e poderoso tiro. E aí sim, como disse Vinícius, esté é o momento vivo que tanto esperamos para encher de beijinhos e carinhos sem ter fim.
Mas e quando esse encontro não pode nunca mais acontecer? É aí que sentimos a saudade sem fim e não adianta dizer "chega" como cantou Vinícius, porque essa não morre jamais. É tão incrível e versátil, que se transforma em um doce e gostoso sentimento. A eterna saudade é tão diferente da efêmera e diária, que de tão profunda parece intrínseca à alma. Nasce, cresce e se mantém infinita dentro de nós. O encontro físico não mais acontece, por um tempo o coração padece, mas a distância vai se dissipando, deixando de ser dor e por fim, as lembranças se triplicam em passado, presente e futuro. O tempo todo com você, para sempre e depois do sempre.
Saudade eterna |