Soube outro dia que a melhor academia do Rio vai fechar as portas. Parece fútil falar desse assunto, mas tantas coisas aconteceram naquele lugar, que não posso deixar meu adeus passar em branco.
Aos 14 anos de idade, uma pirralha metida à besta, entrei pela primeira vez naquele enorme salão espelhado e me espantei com o novo mundo que me aguardava. As bicicletas tinham TVs acopladas (isso era o máximo para a época), as salas eram enormes e coloridas, os mais variados e modernos tipos de aparelhos se mesclavam entre pessoas bonitas e muito bem vestidas. Parecia que eu estava num mix de glamour hollywoodiano envaidecido com a brisa do Rio. Me encantei.
Minha mãe decidiu no mesmo instante: nossa família será sócia desse paraíso. A matrícula na época era uma baba, mas todas as instalações brilhavam de tão novas. As priscinas com restaurante lembravam um clube e a ideia de fazer uma academia aberta, com ar livre à vontade para relaxar depois da corrida e tomar um suco fresco lendo Jornal do Brasil, que se espalhava pelos cantos como cortesia da casa, era simplesmente genial! Ainda por cima, em plena Lagoa Rodrigo de Freitas.
Minha mãe aproveitava ao máximo, fazia todas as aulas. Fez novas amigas, ganhou clientes, conquistou um corpinho invejável e arrancou olhares admirados por onde passava. Quanto a mim, naquela época só pensava em estudar. O Colégio Santo Agostinho me proporcionou algumas tantas horas de malhação porque o clima na Estação era tão gostoso que não tinha nada melhor do que acelerar no transport ou na bicicleta fazendo equações de álgebra.
Gisella Amaral com toda sua simpatia contagiava sorrisos pela academia. Os funcionários pareciam amar o que faziam e te recebiam com tanto carinho que era difícil não se sentir confortável e sempre bem vindo. Os professores eram os melhores do Rio. As mulheres que malharam lá nunca se esquecerão das aulas de suar a alma do professor Beto.
Na inauguração da Estação do Corpo, borbulhava ali o início da reviravolta do até então decadente Rio de Janeiro. Era um primeiro sinal de que alguém queria apostar alto na cidade maravilhosa. Ricardo Amaral enxergou longe! Hoje o Rio é uma das cidades mais cobiçadas do mundo. Tão desejada que teremos que ceder o espaço da Estação do Corpo para que as pessoas possam degustar ainda mais as maravilhas da Lagoa.
Por mais triste que seja o fim de um espaço com tanto sucesso e histórias, ninguém mais quer ver um muro escondendo uma parte de um dos cartões postais da cidade. Com o fim da academia, o governo vai ampliar o Parque dos Patins. Se for para nos maravilhar ainda mais com essa cidade, sinto pena, porém orgulho de contribuir com a nossa beleza e deixar um doce adeus à Estação do Corpo, que é muito mais do que só "do corpo", é também dos amigos, da melhor equipe de profissionais do Rio, do serviço impecável e do aconchego e excelência num único lugar. Na verdade, um lugar único.