Eu tenho um problema grave: sou um ser possuído pela Lei de Murphy. Isso não significa que eu seja adepta dessa praga e nem que seja uma simples refém como todas as pessoas normais já foram em algum dia de suas vidas. Isso significa que é um carma. Sou mais que refém, sou perseguida. Mas eis que nas últimas semanas consegui de forma inédita vencer esse mal. Na verdade, não venci. Fiz um acordo com Murphy.
- Fernanda, nem ouse encostar seu pezinho no mar...
- Mas Murphy, você não pode me liberar nem para um mergulhinho? A praia está tão quente...
- Fernanda, se insistir terei que provocar rajadas de vento frio exatamente quando a água encostar na sua barriga.
- Não me importo! Essa do vento já é velha, vou mergulhar sim!
- Então terei que partir para um golpe mais baixo. Vou estragar seu lindo céu azul com nunvens que acabarão com o sol.
- Murphy, essa é mais batida ainda! Todo mundo sabe que basta querer dar um mergulho para o sol desaparecer.
- Você está me subestimando, Fernanda?
- Não, eu mais do que ninguém sei do seu poder, poxa! Mas já aprendi a lidar com suas pegadinhas. Vou mergulhar e ponto!
Um passo, dois passos, três passos e...
- Fernanda, depois não diga que não avisei!
Sabe aquele mergulho de refrescar a alma? De tão gostoso, parece massagear seu corpo, uma maravilha! Quando você levanta descobre que o Rio é mais bonito ainda. Mas nãããooo se ao abrir os olhinhos se deparar com uma onda gigantesca.
- Murphy, eu quase morri!!! O mar estava uma piscina, foi só eu mergulhar para vir não só uma tsunami como uma sequência assassina de ondas!
- Você me obrigou a isso, Fernanda. Sabe muito bem que o mar e o trânsito são as situações em que mais gosto de te infernizar.
- Então quer dizer que nunca vou poder nadar no mar sem quase morrer de frio ou de afogamento? Nunca vou poder mudar para a fila do lado no trânsito porque sempre vai parar na hora em que eu entrar? Nunca acharei uma vaga de primeira em Ipanema?
- Nunca! Mas não desista, é assim que me divirto.
- Ah você ainda por cima se diverte?! Então, faremos um acordo: eu mergulho com sol e sem vento e você manda a tal série de tsunamis só que no mínimo uns 30 segundos após eu levantar porque assim pelo menos dá tempo de fugir desesperada até a areia, sem precisar tomar caldo. Te garanto que só com a minha cena patética correndo na água descabelada e esbaforida, você já terá muita diversão. Fechado?
- Ok, parece razoável. Mas no trânsito não abro mão de nada.
- Sério? Ah que dilema... Tudo bem, pelo menos não passo mais ensolação na praia.
E assim foram os últimos dias das minhas férias na semana passada. Praia e mais praia com direito a mergulho! É claro que continuo pegando todos os sinais vermelho no trânsito e os caminhões de lixo estarão sempre a dez por hora na minha frente, parando a cada esquina em ruas estreitas, sem passagem.
Só que o que importa é que não há engarrafamento que a energia do mar não cure. Nesse acordo, ainda saí no lucro. Mas como conheço bem as artimanhas de Murphy, continuo de olho bem aberto, porque como ele mesmo diz "nada é tão ruim que não possa piorar".
Só que o que importa é que não há engarrafamento que a energia do mar não cure. Nesse acordo, ainda saí no lucro. Mas como conheço bem as artimanhas de Murphy, continuo de olho bem aberto, porque como ele mesmo diz "nada é tão ruim que não possa piorar".
Eu e Preta Gil definitivamente temos algo em comum |