sexta-feira, 13 de abril de 2012

O pó do amor


Como já é esperado de uma adolescente no auge dos seus 13 anos, eu colecionava paixões platônicas por amores impossíveis. Desde atores da Malhação até os meninos do terceiro ano do colégio. Pois bem, um belo dia, talvez não tão belo assim, minha empregada na época me mostrou a luz para todos os meus supostos problemas amorosos. Era o pó do amor.

Aquilo me parecia um presente divino, uma mágica milagrosa do destino que caía como uma luva no momento mais obsessivo da minha paixão pelo Claudinho.

Durante cerca de dois anos, o Claudinho me fascinava simplesmente pelo fato de já ter 17 anos e morar na frente do meu prédio, diariamente me saboreando com sua imagem sem camisa ao passar pela janela que eu avistava do meu quarto - o reduto da minha espionagem e obsessão. Era praticamente uma araponga do Carlinhos Cachoeira, cheia de táticas e recursos para vigiar o amor da minha vida.

Depois de tantos olhares não correspondidos e rios de lágrimas pelo amor diversas vezes ignorado, Cristiane (a empregada - uma menina de 18 anos, que queria ser minha melhor amiga) me aparece com um potinho de vidro, tipo esses de porpurina, com um pó dentro todo branquinho. É lógico que era talco. Mas eu era apenas uma Fernandinha bobinha, não sabia de nada.

- Fê, você quer conquistar de vez o Claudinho?

- Lógico! Eu amo ele... Mas não tenho chance...

- Tem sim! Olha o que eu trouxe pra você. Este é o pó do amor. Comprei numa casa de feitiços e bruxarias perto da minha casa depois que uma amiga contou ter jogado no atual namorado dela. Em dois dias ele se apaixonou perdidamente e hoje em dia só falta rastejar aos seus pés.

- Juraaaa????!!!!!! Que máximo!!!! Será que é verdade mesmo? Basta tacar no Claudinho e pronto, ele vai se apaixonar por mim???

- Juro por Deus!

Uma observação válida: todo mentiroso jura por Deus, mas isso é um tema para outro post. Enfim, meus olhos brilharam, quase chorei de emoção só de pensar que finalmente conquistaria o coração do meu tão amado Claudinho. Paguei cerca de 15 reais pelo pó milagroso e levei no dia seguinte para o colégio, mas antes de sair tacando o pó no garoto, mostrei toda exibida para todas as minhas amigas, que naturalmente também cultivavam paixões platônicas.

Foi um verdadeiro alvoroço. Cinco amigas se animaram e resolveram comprar também e nos reunimos no dia seguinte para montar a estratégia intitulada "Como Jogar o Pó do Amor nos Nossos Amores". Tínhamos que planejar cada detalhe. Não podíamos simplesmente sair jogando um "talco" nos nossos alvos. O que eles iam pensar? Mas também isso não importava, porque logo depois eles se apaixonariam loucamente e essa cena surreal seria facilmente apagada de suas memórias. Mas a Cristiane alertou: "eles só não podem ver você jogando, senão o feitiço não funciona".

Depois do plano devidamente arquitetado, esperamos a hora da saída e nos posicionamos na porta do colégio. Cada uma devidamente preparada com seu potinho em mãos. Dois dos alvos eram amigos e saíram juntos. Eu e Joana rapidamente nos preparamos para seguí-los quase que na pontinha dos pés para não despertar suspeitas.

Mas no momento do ataque em que o silêncio era crucial para o sucesso do plano, as duas caíram num ataque de riso digno de plateia. Os dois pararam e quando olharam para ver quem eram as duas mongolóides rindo atrás deles, nos desesperamos e no susto, tacamos o pó todo de uma vez. Mas já era tarde demais. Eles já tinham se virado e acabamos jogando todo o pote direto no rosto deles, dando um banho de farinha. Foi um desastre, até porque quando caiu a ficha do que tinha acontecido, aproveitamos o lapso de perplexidade dos meninos e saímos correndo na direção contrária, como que bandidos fugindo da polícia.

Com a tragédia, as outras amigas acabaram desistindo de dar continuidade ao plano para evitar mais desgraças. Fiquei pelo menos dois dias fingindo que estava doente para não dar as caras no colégio.

Claudinho nunca se apaixonou por mim. E Cristiane nunca me devolveu os 15 reais.


As Infláveis

Da série: crônicas imperdíveis do Veríssimo. Vale à pena ler!


AS INFLÁVEIS

Luís Fernando Veríssimo


Como se compra uma mulher inflável? Foi a pergunta que me fiz um dia, e não soube me responder.

Você entrava numa sex shop e pedia para ver o que eles tinham?

(Você: "Mulher inflável?" Balconista: "No fundo, entre os arreios e as bolinhas japonesas".)

Não, pensei. Sex shops não deviam vender mulheres infláveis, a não ser as mais bem estocadas. Talvez se comprasse pelo correio. Pela internet, isso. Procurei mulher inflável no Google. E encontrei! Mulheres feitas de vinil, da cor que se quisesse, em tamanho natural, com algo chamado de Cyber Skin nos orifícios. Vinham numa caixa.

Como seria a caixa? Parecida com uma embalagem de pizza, com a mulher dobrada dentro? Viria uma bomba de ar junto ou você mesmo teria que assoprar para enchê-la, no primeiro ato de intimidade entre os dois? Você lhe dando vida com seu sopro, como o Deus da criação. Depois passando a mão pela sua pele de vinil, testando o Cyber Skin com o dedo, tomando posse. Elas já viriam da fábrica com nome - Suzy, Carol, Natasha - ou caberia a você também batizar a recém-nascida, ou recém-inflada? Cloé, pensei. A minha se chamaria Cloé. Ou talvez Pleshette.

Decidi que, antes de seguir adiante, deveria consultar alguém que tivesse experiência com mulher inflável. Me indicaram o Fred (o nome dele, claro, não é este), que já teve várias.

– A vantagem da mulher inflável, Aloísio (meu nome, claro, não é este) – disse ele –, é justamente a variedade. Quando você se cansa de uma, joga fora e compra outra. Ou vende a velha e compra uma nova.

– Vende a velha?

– Há um grande mercado para mulher inflável de segunda mão, ou recauchutada.

Eu estava entrando num mundo paralelo de cuja existência nem desconfiava. O próprio Fred me contou que havia uma comunidade de homens com mulheres infláveis, que se reunia frequentemente, inclusive para troca de casais. Só não faziam muito sexo grupal porque, com o calor da ação, havia o risco de algumas mulheres esvaziarem e murcharem, o que estragava o clima.

Nem todos compravam mulheres infláveis com a mesma intenção, ainda segundo o Fred. O Tuta, por exemplo (o nome dele, claro, não é este), especificara que queria uma inflável com a cara da sua ex-mulher e com apenas um orifício: a boca.

– Para o sexo oral, que a mulher dele se negava a fazer?

– Não, para tapar com uma rolha. Ele não toca na sua mulher inflável. Bota ela sentada ao seu lado durante as refeições, no sofá quando vê televisão, na cama... De vez em quando pergunta "Você disse alguma coisa, querida?" e depois dá uma gargalhada.

Comprei uma mulher inflável. Confesso. Pedi uma morena com a cara aproximada da Catherine Zeta-Jones, se tivessem, e não pretendo compartilhá-la com ninguém. Tenho a levado a motéis, onde o pessoal se surpreende ao me ver chegar sozinho, com uma caixa de pizza embaixo de um braço e uma bomba de encher pneu de bicicleta do outro. Mas, é claro, não sou eu que estou escrevendo isto.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Medo de piada



Sei que sou uma pessoa levemente problemática, mas existem algumas situações em que se eu pudesse pediria ao Capitão Nascimento pra sair. O dilema é sobre uma situação específica, porque na verdade, existem centenas delas por aí, mas como eu sei que meu leitor tem mais o que fazer da vida, reduzi o post a essa sinuca de bico nada agradável.

Fulano resolve me contar uma piada. Não importa se o fulano é amigo, namorado, conhecido ou um qualquer, não interessa: entro em desespero. É instantâneo, iimplacável, devastador. O que era para ser no mínimo uma situação divertida, descontraída, subitamente se transforma num beco sem saída, angustiante e claustrofóbico. Acontece que quando alguém se prontifica a me contar uma piada, me sinto automaticamente na obrigação de realmente achar graça.

Minha angústia é tão grande, que nem consigo prestar muita atenção na história porque já nas primeiras palavras me pego remoendo pensamentos do tipo: Meu Deus, será que vai ser realmente engraçado? E se não for? Vou conseguir fingir um riso convincente? E mesmo se eu achar graça, o que vou falar depois do riso? Discursar algo interessante sobre a tal história? Ninguém comenta uma piada. Elas se encerram com risos e ponto final. Mas é tão difícil encarar esse ponto final... O silêncio pós-riso de piada me mata por dentro. O ideal seria eu mesma tapar o silêncio emendando com outra piada, mas não faço isso, primeiro porque não tenho o menor talento para piadista, mas também porque não quero devolver para o fulano o constrangimento do pós-riso. Não sou vingativa.

Se fulano não me avisar que vai contar uma piada, até alivia um pouco meu sofrimento porque nesse caso, sou pega de surpresa. Sem aviso prévio e dependendo do tamanho da piada, não dá tempo de começar a proliferar os pensamentos esmagadores sobre como será a minha reação. Mas o problema central é que na maioria dos casos, o fulano sempre alerta antes: "Galera, vou contar uma piada muito boa". Essa expressão "muito boa" é ainda mais um complicador nessa situação porque aí a expectativa do simples ato de "achar graça" é elevada ao extremo e a sensação da obrigação inexorável do riso triplica de potência, ou seja nesse momento só consigo pensar em uma coisa: com o perdão da palavra, FUDEU!

O TESTE

Estou lendo o último livro do Veríssimo e entre várias crônicas sensacionais, encontrei esta que tem tudo a ver comigo. Vale à pena ler!
 
 
O TESTE
 
Luis Fernando Veríssimo

Ele e ela atirados no sofá, cada um para um lado. Ela lendo uma revista, ele lendo um jornal. Ela se debruça por cima dele, procurando  alguma coisa na mesinha ao lado do sofá, depois enfiando a mão entre as pernas dele e o estofamento. Ele pensa que a intenção dela é outra e se entusiasma.

- Epa. Opa. É por isso que eu gosto dessas revistas femininas. São puro sexo . . . Cento e dezessete maneiras de atingir o orgasmo usando utensílios domésticos, inclusive o seu marido. Chuchu, esse afrodisíaco desconhecido. Você também pode ter os seios novos da Xuxa, quando ela não estiver usando . . . Vocês começam a ler essas revistas, se excitam e ...

- Encontrei.

- Claro que encontrou. Você pensou que ele tivesse se mudado? Continua no . . .

- O lápis. Eu sabia que ele estava dentro do sofá.

- Lápis?

- Pra fazer este teste da revista. Vamos lá. “Você chega em casa e diz que precisa fazer uma reavaliação das suas prioridades, recuperar o seu espaço pessoal e dar um tempo para o casamento, e declara que vai viajar sozinha. Ele a) dirá que tudo bem, desde que você faça um rancho no supermercado antes de ir, b) acusará você de ter um amante e exigirá saber quem é, c) dará uma risada e dirá “boa, boa, conta outra” ou d) dirá que entende você e apóia sua decisão.” “Você”, no caso, sou eu.

- E “ele” sou eu?

- “Ele” é você.

- D.

- O quê

- D. A resposta dele, que sou eu, é D.

- Você me entenderia e me apoiaria?

- Sem a menor dúvida.

Ela anota com o lápis, não muito convencida, e continua.

- “Ele tem um hábito que você não suporta, mas nunca mencionou. Um dia você resolve falar e pede que ele pare, senão você enlouquece. Ele a) dirá que você tem vários hábitos que também o deixam maluco e só para se você parar, b) dirá que devemos aceitar as pessoas como elas são, com todas as suas imperfeições, e que você está sendo insensível e intolerante, c) dirá que fará o possível para parar, pois a sua aprovação é a coisa que ele mais preza, ou d) negará que tenha o hábito e dirá que você só está atrás de um motivo para criticá-lo”.

- C.

- C?

- Ele disse C.

- Se eu pedisse para você abandonar um hábito que me incomodasse . . .

- Eu pararia na hora.

- Mesmo?

- Mesmo.

Ela anota e recomeça a leitura.

- “Você . . .”

- Espera um pouquinho. Esse teste não é pra mim. É pra você. É para a mulher responder o que espera do marido. Que tipo de homem ela pensa que ele é. No final, dependendo das respostas, a revista diz “Separa-se desse monstro imediatamente!” Ninguém quer saber as nossas respostas. Desprezam a nossa autoavaliação.

- Não é bem assim . . .

- É, sim. É por isso que eu não gosto de revistas femininas. Não têm o menor interesse em homem, a não ser como objeto sexual. São feitas por mulheres para mulheres. E o que é que mulher mais gosta de ler, ouvir e ver? Outras mulheres. Alguém já viu homem na capa de uma revista feminina? Nunca. É tudo narcisismo. Delas para elas. Até os testes.

Ela atira a revista e o lápis longe.

- Pronto. Acabou o teste.

Ela o abraça.

- Ficou bravinho, ficou?

Ela o beija. Ele se deixa beijar. Ela o beija com mais ardor. Ele enfia a mão entre as pernas  dela. Ela faz “Mmmmmm. É assim que eu gosto”. Ele diz:

- Encontrei.

- O quê?

- O controle remoto.

E liga a televisão.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pitadinhas a seu gosto

Veja só que irônico. Amo assistir programas de culinária. Os do GNT são meus favoritos. Sou capaz de passar a tarde toda só observando, analisando e saboreando as imagens daqueles chefs geniais fazendo maravilhas gastronômicas. Por outro lado, odeio com todas as minhas forças cozinhar. Não sei descascar uma batata, quebrar ovo, muito menos picar cebola. Além de ter uma verdadeira repulsa pelo fogão, nas raras vezes em que me arrisco fazer alguma coisa que não seja o óbvio macarrão de sempre, acaba dando em fatalidade na certa.

Mas na verdade, o meu real problema não é a clara falta de talento e sim volumes sem dimensões. Parece um paradoxo, mas vou explicar. Nas receitas de culinária, pode reparar, sempre citam palavras como "uma pitadinha", "um bucadinho" ou "a seu gosto". Numa boa, tem coisa mais irritante que isso? Pessoas sem nenhum talento e noção como eu precisam saber extamente quantas gramas, mililitros, colheres (de chá, de sopa, o que for) são necessárias em minúcias exatas para conseguir cozinhar alguma coisa no mínimo palatável. Quero ver algum médico receitar "um bucadinho" de antibiótico ou calmantes "a seu gosto".

Até entendo que algumas pessoas já nascem com mãos predestinadas para a cozinha, mas pré-julgar que o pobre cozinheiro amador vai entender exatamente o quanto significa a maldita pitadinha já é demais. Além disso, usar essas palavrinhas traiçoeiras é um tiro no pé porque qualquer insucesso do prato vira imediatamente culpa do cara que escreveu a receita. Você já ouviu alguém falando que odeia as receitas da Ana Maria Braga ou do fulano chef de cozinha porque sempre dá errado? Pois é, com certeza deu errado por causa das tais pitadinhas e bucadinhos que eles teimam em escrever.

Talvez se as pitadinhas sumissem dos livros de receita, euzinha aqui, quem sabe, me transformaria numa exímia cozinheira. Enquanto isso, fico com meu humilde microondas (salvador da pátria) porque um bucadinho de miojo não faz mal a ninguém.

Nigella, minha preferida, mas adoooora cozinhar com pitadinhas

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Propagandas misteriosas

Queria tanto entender os enigmas de algumas campanhas publicitárias. São tão intrigantes, que às vezes me parece que a dupla de criação e o pior, que o próprio cliente, surtaram totalmente. É a única resposta.

Não sei se sou a única que não captou a lógica da coisa, mas o que tem a ver o Milton Nascimento aparecer do nada cantando uma música esquisita, intercalando com outras pessoas duplamente estranhas, falando sobre uma tal de Maria, que no fim das contas parece se tratar da triplamente esquisita Maria Gadú, num comercial da Nextel? E ainda por cima o desfecho do filme aumenta ainda mais o mistêrio da tal propaganda esquizofrênica: a própria Maria Gadú surge falando cheia de razão, como se fizesse todo o sentido do mundo a frase "sou Maria e sou feita de gente". Oi??? Vou comprar um Nextel porque a Maria Gadú é feita de gente? Para desvendar esse mistério, talvez pudéssemos perguntar ao senador Demóstenes e seu amigo Carlinhos Cachoeira, integrantes do "Clube do Nextel", quem afinal é essa gente. Será que é gente como Demóstenes ou gente como a gente?


Interrogações também rondam a minha cabeça toda vez que vejo o comercial do inseticida SBP. O slogan "Terrível Contra os Insetos" é claro e óbvio, mas por que frisar em seguida repetindo "contra os insetos"? O telespectador não consegue entender de primeira que é um produto contra os insetos? E se não fosse terrível apenas contra os insetos, seria contra quem mais?


A dupla de cantores Victor e Léo também levantou um mistério. O que eles estão fazendo no comercial da Niely Gold??? A garota propaganda é a Giovanna Antonelli desfilando com cabelos lindos e sedosos, até aí tudo dentro do previsto. Mas sentadinhos num sofá estão Victor e Léo, que suponho não usarem no cabelo a tal linha de tratamentos da Niely, certo? Então por que a empresa pagou para eles fazerem aquela aparição inexplicável ali? Eles não têm nada a ver com o produto, nem com a Giovanna Antonelli e sabe-se lá então se as consumidoras do tal cosmético são ao menos fãs dessa dupla à ponto de irem atrás de um produto da Niely só porque os dois acharam que ficou bonito no cabelo da atriz.


Aliás, a Giovanna Antonelli realmente usa Niely Gold? Aguém compra inseticida para matar algo que não seja um inseto? A Maria Gadú é a única pessoa no mundo que ainda não saiu da Nextel? Pesguntas que não querem calar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Guerra contra o tempo


Fernanda Atrasilda Novaes, este é o meu verdadeiro nome. Quem me conhece sabe, sou a própria personificação da palavra atraso. Não me orgulho disso, pelo contrário, o tempo é meu maior inimigo.

Não sei o que acontece, mas não importa o que for, sempre acho que tudo vai dar tempo. Acho não, acredito piamente. Não sei se é uma tentativa de autoenganação ou se é burrice mesmo, ou quem sabe os dois juntos. Mas sei que não sou a única no mundo injustiçada pelo relógio. Com certeza existem outras vítimas como eu que enxergam nitidamente que a única situação em que os minutos levam uma eternidade para passar é quando você está se matando na esteira. Fora isso, na cabeça do atrasildo, dez compromissos se encaixam perfeitamente num espaço de dez minutos. É a matemática da enganação. Sim, a matemática para doidas como eu, nem sempre é tão exata como dizem. Afinal qual é o problema de calcular 1 minuto para cada compromisso?

É lógico que não estou falando de compromissos como as duas horas que as mulheres estão acostumadas a levar dentro de um salão de beleza. São coisas aparentemente simples como comer um sanduiche (nº 1), escovar os dentes (nº 2), passar um hidratante no corpo (nº 3), vestir uma roupa (nº 4), escovar o cabelo (nº 5), se maquiar (nº 6), arrumar a bolsa (nº 7), se despedir do cachorro (nº 8), chamar o elevador (nº 9) e descer do elevador (finalmente, nº 10). Missão cumprida! O problema não são essas 10 coisinhas e sim o celular que você esqueceu e tem que voltar na última hora para buscar, a pasta de dente que acabou e tem que procurar uma nova, o cachorro que não para quieto e o pior, o "momento armário".

O "momento armário" na verdade é o grande culpado de tudo. Todos os outros imprevistos podem ser relevados, mas quando as portas do dito cujo se abrem, brotam milhões de dúvidas, um bilhão de combinações de roupas, cores para todo o lado, ataques de histeria e minutos que se transformam automaticamente em segundos. É impressionante como basta você ter que escolher uma roupa para os minutos tão preciosos na vida de uma atrasilda voarem como nunca. Quero ver eles voarem assim enquanto você está se esguelando na esteira!

Os minutos são traiçoeiros. O ponteirinho do relógio não perdoa nem quando você está com o tempo todo cronometrado. E é por isso, que venho aqui por meio deste blog desabafar não só contra o poder maquiavélico do armário, porque além de atrasilda também sou indecisa (combinação explosiva!!!), mas também contra o elevador. É exatamente isso que você está lendo, o elevador é uma desgraça na vida de um atrasildo. Não importa se é no seu prédio, no trabalho ou no raio que o parta, o elevador sempre está pronto para te sacanear, mais precisamente nos minutos finais que te restam para conseguir não se atrasar.

Pode parecer um troço inofensivo ou até uma excelente invenção para os sedentários de plantão (ok, eu também sou um deles), mas o elevador é uma faca de dois gumes. Seu mal é tão devastador que pode causar estresse de alto nível e até violência desenfreada. No vídeo abaixo, você vai entender exatamente do que estou falando. Mas resumindo é assim que funciona o plano maquiavélico: você quer subir, mas ele está descendo. A porta está quase fechando, mas eis que surge um mala no último segundo e enfia a mão no sensor antes da porta fechar e ela vooooolllta a se abrir. Vamos lá, respira fundo! A porta finalmente fecha, mas na mesma hora alguém chama de novo e mais uma vez o elevador abre a droga da porta. Enfim, nessa brincadeira os 10 minutos que você achava que tinha já se foram embora há tempos. Isso só leva a crer que se você é atrasildo como eu, caia na real! A culpa não é nossa, é toda e sempre do maldito elevador!