Sei que sou uma pessoa levemente problemática, mas existem algumas situações em que se eu pudesse pediria ao Capitão Nascimento pra sair. O dilema é sobre uma situação específica, porque na verdade, existem centenas delas por aí, mas como eu sei que meu leitor tem mais o que fazer da vida, reduzi o post a essa sinuca de bico nada agradável.
Fulano resolve me contar uma piada. Não importa se o fulano é amigo, namorado, conhecido ou um qualquer, não interessa: entro em desespero. É instantâneo, iimplacável, devastador. O que era para ser no mínimo uma situação divertida, descontraída, subitamente se transforma num beco sem saída, angustiante e claustrofóbico. Acontece que quando alguém se prontifica a me contar uma piada, me sinto automaticamente na obrigação de realmente achar graça.
Minha angústia é tão grande, que nem consigo prestar muita atenção na história porque já nas primeiras palavras me pego remoendo pensamentos do tipo: Meu Deus, será que vai ser realmente engraçado? E se não for? Vou conseguir fingir um riso convincente? E mesmo se eu achar graça, o que vou falar depois do riso? Discursar algo interessante sobre a tal história? Ninguém comenta uma piada. Elas se encerram com risos e ponto final. Mas é tão difícil encarar esse ponto final... O silêncio pós-riso de piada me mata por dentro. O ideal seria eu mesma tapar o silêncio emendando com outra piada, mas não faço isso, primeiro porque não tenho o menor talento para piadista, mas também porque não quero devolver para o fulano o constrangimento do pós-riso. Não sou vingativa.
Se fulano não me avisar que vai contar uma piada, até alivia um pouco meu sofrimento porque nesse caso, sou pega de surpresa. Sem aviso prévio e dependendo do tamanho da piada, não dá tempo de começar a proliferar os pensamentos esmagadores sobre como será a minha reação. Mas o problema central é que na maioria dos casos, o fulano sempre alerta antes: "Galera, vou contar uma piada muito boa". Essa expressão "muito boa" é ainda mais um complicador nessa situação porque aí a expectativa do simples ato de "achar graça" é elevada ao extremo e a sensação da obrigação inexorável do riso triplica de potência, ou seja nesse momento só consigo pensar em uma coisa: com o perdão da palavra, FUDEU!