Como já é esperado de uma adolescente no auge dos seus 13 anos, eu colecionava paixões platônicas por amores impossíveis. Desde atores da Malhação até os meninos do terceiro ano do colégio. Pois bem, um belo dia, talvez não tão belo assim, minha empregada na época me mostrou a luz para todos os meus supostos problemas amorosos. Era o pó do amor.
Aquilo me parecia um presente divino, uma mágica milagrosa do destino que caía como uma luva no momento mais obsessivo da minha paixão pelo Claudinho.
Durante cerca de dois anos, o Claudinho me fascinava simplesmente pelo fato de já ter 17 anos e morar na frente do meu prédio, diariamente me saboreando com sua imagem sem camisa ao passar pela janela que eu avistava do meu quarto - o reduto da minha espionagem e obsessão. Era praticamente uma araponga do Carlinhos Cachoeira, cheia de táticas e recursos para vigiar o amor da minha vida.
Depois de tantos olhares não correspondidos e rios de lágrimas pelo amor diversas vezes ignorado, Cristiane (a empregada - uma menina de 18 anos, que queria ser minha melhor amiga) me aparece com um potinho de vidro, tipo esses de porpurina, com um pó dentro todo branquinho. É lógico que era talco. Mas eu era apenas uma Fernandinha bobinha, não sabia de nada.
- Fê, você quer conquistar de vez o Claudinho?
- Lógico! Eu amo ele... Mas não tenho chance...
- Tem sim! Olha o que eu trouxe pra você. Este é o pó do amor. Comprei numa casa de feitiços e bruxarias perto da minha casa depois que uma amiga contou ter jogado no atual namorado dela. Em dois dias ele se apaixonou perdidamente e hoje em dia só falta rastejar aos seus pés.
- Juraaaa????!!!!!! Que máximo!!!! Será que é verdade mesmo? Basta tacar no Claudinho e pronto, ele vai se apaixonar por mim???
- Juro por Deus!
Uma observação válida: todo mentiroso jura por Deus, mas isso é um tema para outro post. Enfim, meus olhos brilharam, quase chorei de emoção só de pensar que finalmente conquistaria o coração do meu tão amado Claudinho. Paguei cerca de 15 reais pelo pó milagroso e levei no dia seguinte para o colégio, mas antes de sair tacando o pó no garoto, mostrei toda exibida para todas as minhas amigas, que naturalmente também cultivavam paixões platônicas.
Foi um verdadeiro alvoroço. Cinco amigas se animaram e resolveram comprar também e nos reunimos no dia seguinte para montar a estratégia intitulada "Como Jogar o Pó do Amor nos Nossos Amores". Tínhamos que planejar cada detalhe. Não podíamos simplesmente sair jogando um "talco" nos nossos alvos. O que eles iam pensar? Mas também isso não importava, porque logo depois eles se apaixonariam loucamente e essa cena surreal seria facilmente apagada de suas memórias. Mas a Cristiane alertou: "eles só não podem ver você jogando, senão o feitiço não funciona".
Depois do plano devidamente arquitetado, esperamos a hora da saída e nos posicionamos na porta do colégio. Cada uma devidamente preparada com seu potinho em mãos. Dois dos alvos eram amigos e saíram juntos. Eu e Joana rapidamente nos preparamos para seguí-los quase que na pontinha dos pés para não despertar suspeitas.
Mas no momento do ataque em que o silêncio era crucial para o sucesso do plano, as duas caíram num ataque de riso digno de plateia. Os dois pararam e quando olharam para ver quem eram as duas mongolóides rindo atrás deles, nos desesperamos e no susto, tacamos o pó todo de uma vez. Mas já era tarde demais. Eles já tinham se virado e acabamos jogando todo o pote direto no rosto deles, dando um banho de farinha. Foi um desastre, até porque quando caiu a ficha do que tinha acontecido, aproveitamos o lapso de perplexidade dos meninos e saímos correndo na direção contrária, como que bandidos fugindo da polícia.
Com a tragédia, as outras amigas acabaram desistindo de dar continuidade ao plano para evitar mais desgraças. Fiquei pelo menos dois dias fingindo que estava doente para não dar as caras no colégio.
Claudinho nunca se apaixonou por mim. E Cristiane nunca me devolveu os 15 reais.