Veja só que irônico. Amo assistir programas de culinária. Os do GNT são meus favoritos. Sou capaz de passar a tarde toda só observando, analisando e saboreando as imagens daqueles chefs geniais fazendo maravilhas gastronômicas. Por outro lado, odeio com todas as minhas forças cozinhar. Não sei descascar uma batata, quebrar ovo, muito menos picar cebola. Além de ter uma verdadeira repulsa pelo fogão, nas raras vezes em que me arrisco fazer alguma coisa que não seja o óbvio macarrão de sempre, acaba dando em fatalidade na certa.
Mas na verdade, o meu real problema não é a clara falta de talento e sim volumes sem dimensões. Parece um paradoxo, mas vou explicar. Nas receitas de culinária, pode reparar, sempre citam palavras como "uma pitadinha", "um bucadinho" ou "a seu gosto". Numa boa, tem coisa mais irritante que isso? Pessoas sem nenhum talento e noção como eu precisam saber extamente quantas gramas, mililitros, colheres (de chá, de sopa, o que for) são necessárias em minúcias exatas para conseguir cozinhar alguma coisa no mínimo palatável. Quero ver algum médico receitar "um bucadinho" de antibiótico ou calmantes "a seu gosto".
Até entendo que algumas pessoas já nascem com mãos predestinadas para a cozinha, mas pré-julgar que o pobre cozinheiro amador vai entender exatamente o quanto significa a maldita pitadinha já é demais. Além disso, usar essas palavrinhas traiçoeiras é um tiro no pé porque qualquer insucesso do prato vira imediatamente culpa do cara que escreveu a receita. Você já ouviu alguém falando que odeia as receitas da Ana Maria Braga ou do fulano chef de cozinha porque sempre dá errado? Pois é, com certeza deu errado por causa das tais pitadinhas e bucadinhos que eles teimam em escrever.
Talvez se as pitadinhas sumissem dos livros de receita, euzinha aqui, quem sabe, me transformaria numa exímia cozinheira. Enquanto isso, fico com meu humilde microondas (salvador da pátria) porque um bucadinho de miojo não faz mal a ninguém.
Nigella, minha preferida, mas adoooora cozinhar com pitadinhas |