sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cold foot

Meu filme está queimado pra sempre. Não tem jeito, não há o que fazer, não adianta lutar contra, já estou predestinada, sou a escolhida, a eleita por toda a eternidade a carregar o fardo e a cruz do ofício de pé frio. Não tem essa de vestir um milhão de meias ou apelar pra Deus. O poder de um pé frio é único e não existem barreiras.

É lógico que não estou falando isso de brincadeira. Isso é muito sério. Tão sério que me proíbi terminantemente para todo o sempre de pisar num jogo do Fluminense. Meu irmão, tricolor roxo, tanto me avisou...

- Fernanda, por favor não vá! Esse jogo é muito importante! Se perder para o Boca, o Flu é eliminado.
- Lógico que não! O Fluminense vai ganhar, tenho certeza!
- Poxa, porque você não deixou para ir na final contra o Botafogo? Aquele jogo era perfeito para você ir.
- Ah esse não tinha graça.
- Por favor, Fernanda!

A pior coisa que existe é um pé frio otimista. Quando ele tem C-E-R-T-E-Z-A (assim bem em caixa alta mesmo) de que seu time vai ganhar e está tão tranquilo quanto a isso a ponto de se permitir ir ao jogo, é porque a coisa no mínimo não vai acabar bem. E geralmente acaba muito pior do que deveria ser.

O Fluminense ter perdido para o Boca era totalmente possível. Afinal, os caras têm experiência em Libertadores e sabem como ninguém manter a calma e cozinhar o adversário até a hora de dar o bote. Além disso, ainda estavam com um ponto de vantagem. Até aí nada fora do script. Mas perder nos últimos milésimos do segundo tempo, enquanto os tricolores padeciam para não ir para os pênaltis... Isso é covardia. Isso é o poder do pé frio, que no caso, admito era eu.

Todos os jogos mais improváveis do Fluminense perder, eu estava lá. Sabe aquelas partidas em que tudo está uma maravilha ou ao menos sob controle e no segundo final do último minuto de acréscimo sai não só o gol do outro time, como a virada provavelmente até com goleada do outro? Pois é. Esse é o efeito que causo quando piso no estádio.

Realmente sou muito friorenta no pé. É difícil me ver dormindo sem meias, bem burguesinha mesmo. Mas nunca acreditei ou ao menos quis acreditar que esses 36 centímetros de pé fossem tão gélidos a ponto de envergonhar a história do Flu na Libertadores. Esse mecanismo da negação do status "pé frio" sempre fez parte da minha vida. Mas por isso, venho aqui desabafar para meus amigos tricolores que neste momento me odeiam com todas as forças: juro que na saúde e na doença, na tristeza e na riqueza, para todo o sempre, nunca mais irei a um jogo do Fluminense. Com certeza a partir de agora Laranjeiras vai ser o bairro mais feliz do Rio. Para a nossa alegria!

Infelizmente Mick, estamos juntos nessa...