quinta-feira, 21 de junho de 2012

Uma noite com Vinícius



Esse escurinho... Esse cheiro de uísque com cigarro... Esse violão com som de veludo... Essa voz profunda e calma... Essas palavras... Aaaahhh que palavras... Eu mesma não tenho palavras para descrever as palavras. Ele me envolveu de tal maneira que já não consigo mais abrir os olhos para admirar sua beleza. Os olhos fechados me fazem sentir melhor sua pele.

- Aaaahhh... Insensatez... Que você fez. Coração mais sem cuidadooo... Fez chorar de doooor o seu amooor... Um amor tão delicadooo...
- Vinícius... Você cantando assim... Me deixa mais apaixonada (suspiros)
- Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval, minha doce Fernanda.
- Vinícius... Você falando assim... Me deixa sem fôlego (mais suspiros)
- Só espero que nosso amor seja infinito enquanto dure, minha doce Fernanda.
- Vinícius... Você falando assim... Me deixa totalmente embriagada (suspiros ininterruptos)
- Eu sempre vou te amar. Por toda minha vida eu vou te amar, minha doce Fernanda.

Silêncio.

- Fernanda? Fernanda?

Por alguns minutos levitei sobre a sala incrivelmente aconchegante, antro de sedução da casa de Petrópolis de Vinícius de Moraes. Fiquei bêbada de amor e desmaiei em seus braços delirando com o poder hipnótico de seus olhos umedecidos e poderosos. Seu olhar me admirava com tanta profundidade e minha recíproca era tão intensa que fui tirada de órbita rumo a outra galáxia.

- Fernanda! O que houve com você, meu amor?
- Saí de mim. Não é você mesmo que diz: quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém? Então. Aconteceu.
- Minha doce Fernanda... Sem você não há paz, não há beleza, é só tristeza e a melancolia.
- É verdade. Senti tanto sua falta nos últimos anos. As rádios não tocam mais suas músicas e as pessoas não conhecem mais a Bossa Nova. Tudo se perdeu, Vinícius. Mas agora que nos encontramos, só posso te dizer uma coisa: Chega de saudade!
- Minha doce Fernanda... Você quer ser minha namorada?
- É meu maior sonho!
- Então, você tem que me fazer um juramento de só ter um pensamento. Ser só minha até morrer. E também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas histórias de você. E de repente me fazer muito carinho e chorar bem de mansinho, sem ninguém saber porque.
- Eu juro! Mas você já se casou nove vezes, Vinícius. Então antes de assumir o posto de décima mulher, preciso te contar uma coisa.
- Fale, minha doce Fernanda.
- Eu amo você, sou enlouquecida por Bossa Nova, mas... Mas.... Mas.... É que... que... Eu gosto de funk.
- Ok. Você nunca será minha décima mulher. Adeus!

Acordei logo depois desse dolorido e sonoro adeus. Era apenas um sonho. Quanta insensatez...