segunda-feira, 25 de junho de 2012

What a surprise!



Ultimamente tenho entrado numa psicose louca por corrida. Isso é meio estranho porque afinal, sempre remoí problemas seríssimos com aparelhos que simulam movimentos sem sair do lugar. Bicicleta, esteira, transport e aquela monstruosidade que imita uma escada com degraus ambulantes, nunca fui com a cara deles. Como pode? Você pedala horas ou então, sobe 40 mil degraus da porra da escada móvel e continua de cara para a parede da sala da academia? É um verdadeiro convite ao tédio. Mas como já dizia Forrest Gump, "a vida é como uma caixa de bombom, a gente nunca sabe o que vai encontrar" e portanto, na maior surpresa dos últimos tempos, eis que um certo flerte começou a pintar entre mim e Stela.

A Stela é uma das 20 esteiras que tem na minha academia. Ela é especial porque fica posicionada no canto exatamente inferior ao ar condicionado (vulgo Senhor Alasca), colada na parede (que comecei a ver com outros olhos: de entendiante ela passou a aconchegante) e a alguns poucos metros da única televisão sintonizada num canal que não esteja passando futebol. Nós nos simpatizamos depois que resolvi dar uma chance a ela e tentar alcançar o mítico, distante e inimaginável emagrecimento.

A afinidade foi tanta que não consigo olhar para a Stela sem pensar: hoje vou ficar com você por no mínimo uma hora, minha amada, querida e mais nova amiga. Tudo isso porque Stela realmente está me saindo melhor do que qualquer dieta da sopa e do poder laxante nada agradável do chá verde. Uma hora com Stela significa no mínimo 10 km percorridos, o que segundo ela me diz, corresponde a 1000 calorias perdidas! Sim, eu disse mil, com os três zeros reluzentes! Ainda por cima, Stela tem excelente facilidade para matemática e essas chatices numéricas em geral. Mas tem mais: ela é a metamorfose ambulante de Raul Seixas. Com um simples toque pode virar uma superfície mantanhosa, com descidas e subidas em vários níveis de dificuldade. Com Stela não existe tédio! 

Ela é um pouco tímida, discreta, reclusa, exatamente como eu, veja só que irônico! Por isso, ela se posiciona no cantinho mais estratégico para que ninguém fique vendo você suar como uma porca e muito menos para que nenhum professor mala tenha acesso a você. Estou falando isso porque simplesmente tenho horror de professor de academia e acho que deviam ser banidos da sociedade aqueles cristos que em geral ficam responsáveis por passar de aparelho em aparelho impregnando os alunos com perguntas do tipo: está tudo bem? quer uma águinha? posso medir seu pulso? Numa boa, se você é professor de academia e faz esse tipo de coisa, vá agora cortar os pulsos, porque você é um mala inconveniente, submisso, subserviente, capacho da ditadura das academias que cismam em monitorar os alunos com um único e claro objetivo: deixar o pobre coitado que está se matando na esteira com aquela maldita dor de viado. Isso é muito sério, gente! Não existe conversar, bater papinho, dar detalhes de como está sendo o seu treino enquanto você corre, cacete! Correr pressupõe silêncio absoluto! No máximo, um fone com a música no volume máximo para você nunca ter que ouvir e responder nada para ninguém. Não existe interação na corrida. É você, o fone e a Stela, pronto e acabou. A boca só abre para respirar. Se você falar um ai que seja, é dor de viado na certa. Quero ver alguém correr com aquela dor insuportável, é um verdadeiro golpe baixo com pontadas ritmicas condicionadas aos seus passos da corrida. Nem toda a disposição do mundo é capaz de sobreviver a isso e os professores sabotadores são os principais culpados.

Ok, depois desse desabafo insano de ódio aos professores, posso concluir sobre o meu caso de amor com Stela. Pois bem, não sei se é um relacionamento de longa duração e nem se ficará mais intenso evoluindo para corridas de 20 km pra cima. Acho sinceramente que tudo é possível nesse meu mais novo affair. Uma vez li um post da minha musa psicótica Natalia Klein em que ela perguntava: correr para quê? para onde? por que? No atual estágio, ainda estou na fase cega do amor, então não posso responder a essas perguntas. Só sei que enquanto Stela estiver pronta para o meu start, estarei lá rumo à tão sonhada magreza e sem caixas de bombom, of course, mas no maior estilo Forrest Gump. Run, Fernandinha, run!