quarta-feira, 25 de julho de 2012

Surfista de trem


Não, por enquanto você ainda não vai me ver pendurada tentando me equilibrar no teto de um trem do Rio de Janeiro, mas posso te garantir que como boa carioca até que me saí super bem na minha mais recente missão rumo à Cascadura.

Entrar num novo emprego tem dessas coisas. Do nada você pode se ver correndo pelo centro da cidade atrás dessas empresas no minimo muito esquisitas para fazer exame admissional, homologação e todas essas burocracias que fazem parte do humilde mundo da classe trabalhadora. E é aí que surgem essas sinucas de bico. Quando você perceber já estará matutando na cabeça como vai fazer para achar uma vaga no centro ou pior, como fará para chegar no so far far way reino de Cascadura.

Mas a casca era mais mole do que dura. Andar de trem definitivamente não é um bicho de sete cabeças. Ta certo que ousei até demais dando uma de playboy que vai para o centro de carro. Mas como meu amigo Murphy tava muito ocupado com outras vítimas nesse dia, meu anjo da guarda entrou em cena e me arranjou uma super vaga bem em frente à estação de onde eu partiria para minha missão: a Central! 

Desculpe a total ignorância e alienação da bolha em que sempre vivi, mas para mim Central me parecia um lugar medonho com um relógio pavoroso e gigantesco frequentado apenas por vândalos surfistas de trem, além claro da minha empregada, única pessoa de bem que insiste em passar por ali só para não enfrentar o trânsito do subúrbio. Mas não é bem assim.

"Senhoras e senhores, tenho aqui um CD com mais de mil sucessos da música gospel. É sucesso de ontem, de hoje e de eternamente. São apenas dois reais para ouvir Jesus. É sucesso de ontem, de hoje e de eternamente", insistia repetidamente com esse grito de guerra um dos vinte ambulantes que se amontoavam no meu vagão. Em apenas quatro estações vi o cara vender uns dez CDs. Água, relógio, lápis, caneta, tinha de tudo. Era um saara ambulante.

Dois caras do meu lado me fizeram sofrer para conseguir disfarçar a vontade louca que estava de gargalhar. Confesso que eu não estava nem um pouco feliz de estar enfurnada naquela sauna imunda a caminho do subúrbio, mas as histórias daquela dupla me arrancaram sorrisinhos cautelosos. Os apelidos são realmente de uma criatividade de tirar o chapéu: chouriço, espiga, Bob Marley, nariz, cachorro louco, Mussum, geleia e por aí vai. Todos os personagens das histórias eram chamados por apelidos. Dentre as surrealidades, uma merece destaque. O cara estava no baile funk, encheu a cara de pinga, ficou com a boca seca, morto de sede até que avistou um galão de "água" dando sopa na quadra. Vibrou de emoção e "malandramente" se apossou do galão e virou com tudo na mais fervorosa ânsia por água. O gole foi daqueles caprichados, bem de macho mesmo com a goela toda escancarada. Mas como dizem que alegria de pobre dura pouco e que pão de pobre sempre cai com a manteiga virada para baixo, a água não tinha nada de Minalba. Era cloro puro. 

"Fiquei boladão por causa de que na mesma horinha lembrei de um camarada que quase morreu bebendo cloro. No desespero, arrumei logo uma caixa de leite e virei ela todinha. E olha que nem gosto de leite heim! Mas neguinho também é foda, não ta de bobeira nem nada, me empurrou logo um leite com cachaça. Aí meu irmão, fudeu geral, fiquei bonecão e o Bob Marley ficou cheio de caô pra cima de mim". O cara não é um gênio? Virei fã.

Cheguei em Cascadura não só sã e salva, como toda espertinha me sentindo já a local da baixada. Achei o endereço em menos de cinco minutos. Fui num pé e voltei no outro me sentindo a mulher mais gata do Rio de Janeiro depois de ganhar uma cantada a cada esquina. Problemas de autoestima? Vá para Cascadura, monsieur! 

Andar de trem sem dúvida foi uma experiência inesquecível. Uma outra realidade que na verdade, está muito mais perto do que muita gente imagina. Não gosto de música gospel, não comprei nenhuma bugiganga e juro que nunca bebi cloro, mas vi que debaixo daquele relógio horroroso existe muita gente simples, mas feliz. Como já dizia um rap das antigas e faço questão de cantar, da zona sul à zona norte o que eu quero é surfar.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Da Gávea a Búzios não há nada igual


Não quero tchu. Nem quero tcha. O que eu quero? Sossego. Já dizia o grande poeta Tim Maia e repito ipsis litteris. Tudo isso porque no fim de semana passado "consegui" (repare que está entre aspas) reviver cada minutinho arrasatado no maior estilo baiano, totalmente relax, paz e amor. O cenário não era tão glamuroso quanto as paradisíacas praias da Bahia, mas o charme único de Búzios me deu a chance de respirar por dois dias aquele ar despreocupado e sentir toda a malemolência de uma terra genuinamente bela e praiana.

Mas como já comentei aqui no blog algumas vezes, tenho sempre que contar com a variável "Murphy", principalmente nestes momentos aparentemente perfeitos demais. É claro que algum imprevisto nada agradável e muito improvável tinha que acontecer. Para resumir em uma única palavra, mais precisamente em apenas três letrinhas, o dilema da vez chama-se GPS, que tanto pode significar Global Position System, quanto Garantia de Problemas em Série.

Ficar terrivelmente gripada com direito a tosse de tuberculoso exatamente na madrugada de véspera de uma viagem para um lugar de praia foi apenas um mero detalhe. Só uma pequena amostra do que estava por vir. Vitamina C e Benalete me pareciam uma ótima solução, mas estou amargando a maldita gripe até hoje.

Mas voltando ao dilema central, o GPS definitivamente não tem a menor empatia comigo. Isso porque ter Fernandinha como co-pilota é se entregar ao significado mais literal da palavra desespero. Você acha que viajar da Gávea para Búzios em não menos que SETE HORAS só acontece em feriadão? Nãããão! Sem trânsito nenhum é absolutamente possível cometer esse suicídio se estiver confiando em mim como GPS. É isso mesmo... Eu fiz Rio - Búzios em pouco mais de sete horas num fim de semana comum e sem trânsito. Parece difícil de acreditar? Então vou te ensinar como se faz.

Primeiro tente ir para a Ponte Rio Niterói pela Linha Vermelha. Você achava que era pelo Centro?? Não, senhor. Red Line e vamo que vamo. Quando estiver na Ilha do Governador você pode se dar conta desse pequeno errinho e fazer o retorno para pegar a Linha Amarela. Yeeeeessss, Yellow Line porque não? Afinal, podendo errar mais uma vez não vai te custar nada a não ser uma leve vontade de socar compulsivamente o volante até quebrá-lo.

Agora preste atenção porque essa dica é fundamental: a Fernandinha diz que a saída da Linha Amarela para o Centro é a 90. Quando chegar bem próximo da saída 9D (veja que não é mais 90, é 9D! O zero para a cegueta aqui era na verdade a letra D!) e aparecer uma placa com o bairro CENTRO e uma seta, NÃO ENTRE! Pode seguir em frente e ir atééééééééééé a Barra da Tijuca! Mais uma vez, porque não? Afinal, a Fernandinha disse saída 90 e não 9D, então nada mais normal do que ir até o final da Linha Amarela e quem sabe voltar para a Gávea, porque não?

Ok, voltar para a Gávea é um pouco demais. Então vamos só esperar ir até a Barra para pegar a Linha Amarela toda de novo, só que dessa vez no sentido contrário porque a Fernandinha finalmente se tocou que zero não é a mesma coisa que D. E agora ela está determinada a caçar a saída para o Centro. Aliás qual era o nosso objetivo mesmo? Já me perdi.

Nada disso! Não sou tão perdida assim. Vamos pegar a saída 9D, cair finalmente no Centro e chegar a tão sonhada Ponte Rio Niterói! Mas como todos já sabem, nunca foi registrado tráfego fluente na ponte. Então, respira mais um pouco e espera. Agora me diz! Depois disso tudo você conseguiu pegar a Via Lagos? E está todo felizinho com isso? Ah então chegou a hora de nos divertir mais um pouquinho e dar uma voltinha em Magé, o que acha? O que foi? Não gostou de Magé? Pois é, eu também não, então daremos um jeito de retornar para a Via Lagos em direção a Búzios porque se você não se lembra mais este é o nosso objetivo final.

De volta à nossa estrada para o fim de semana buziano teoricamente bem relax, vamos tentar realmente apaziguar os ânimos agora e seguir em frente como se não houvesse amanhã, afinal estamos enfim no caminho certo. Aí quando você avistar uma bifurcação com uma placa gigantesca apontando uma seta para a esquerda "Rio Bonito" e outra para a direita indicando Búzios, você pensa bem e pergunta para a Fernandinha, afinal ela é o melhor GPS já desenvolvido nos últimos tempos. Então, pegue a esquerda e vamos agora dar uma voltinha por Rio Bonito. Aaaaaahhh não, mas a gente queria ir para Búzios e a diária da pousada já está paga, esqueceu? Era para chegarmos no início da tarde e talvez até já aproveitar uma praia, não se lembra? Pois é, mas já são quase dez horas da noite e a Fernandinha conseguiu confundir Rio Bonito com Búzios. Um lugar super agradável, principalmente a esta hora, com direito a alguns bêbados estranhando seu carro com olhares ameaçadores.

Mas não se preocupe! Nada que uma bandalha não resolva e te ajude a pegar a estrada de volta. E aí cansou? Agora já são onze da noite e com toda a boa vontade de Murphy, finalmente você conseguiu chegar na Orla Bardot. Você imaginava pegar uma praiana quando chegasse? Pois é, não deu. João Fernandes já está um breu. Que tal então afogar o ódio que provavelmente tomou conta do seu ser num bom destilado na Rua das Pedras? Também não deu... Não existem forças nem para o álcool.

Por isso tudo, não me venha agora querendo tchu, muito menos querendo tcha. Tenho um namorado prestes a ter um surto psicótico e preciso me desculpar e acalmar. Minha única sorte nessa tragédia toda foi ter ainda um final de semana inteiro pela frente com a certeza de estar pisando nas areias de seda das praias de Búzios. Cenário perfeito para uma reconciliação, não acha?

Mas depois dessa pequena trajetória de erros, não tenho mais a menor dúvida de que Tim Maia definitivamente conheceu e se arriscou a ir para Búzios com uma dessas Fernandinhas que estão espalhadas por aí, praticamente uma das musas inspiradoras de Murphy. Diante de tanta má sorte, a única coisa que o mestre conseguiu cantar foi: "O que eu quero? Sossego". E eu cantei tanto as sábias palavras do síndico que consegui enfim uma folga de Murphy para viver a paz do desfecho perfeito desenhado pelo céu de Búzios totalmente azul da cor do mar. Realmente, da Gávea a Búzios não há nada igual.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hora de dar tchau


Despedida... Essa palavra não estava no meu dicionário. Na verdade até já esteve em alguns poucos e doloridos episódios da minha vida, mas fiz questão de passar a borracha, pulando direto para a letra E de esperança, expectativa e emoção, que é exatamente do que se trata esse mais novo dilema.
O papo dessa vez é sério porque amanhã dou início a um novo ciclo na minha vida profissional. O Globo Online terá uma nova repórter na área. Cheia de dilemas, mas com todo o gás, enfrento amanhã o novo desafio com a certeza de que tive uma experiência realmente emocionante no lugar onde agora me rendi ao que eu mais abomino: me despedir.

Mas afinal por que será que as despedidas carregam esse peso tão negativo? Já reparou que muitas vezes é a partir da simples oportunidade de dizer tchau que finalmente conseguimos expressar nossos sentimentos? Sim, é verdade! Muitas relações que antes ficavam blindadas pelas amenidades do cotidiano acabam se revelando muito mais profundas e verdadeiras exatamente neste temido momento de dizer tchau.

Sei que ninguém está morrendo e que não estou indo morar no Japão, mas só o fato de não poder mais terminar meus dias com o rotineiro "até amanha" para essas pessoas que me aturaram durante nada menos que cinco anos, faz com que esse tchau incorpore todo o peso melodramático de um adeus.

Foi assim mesmo, bem capítulo de novela mexicana, que disse hoje adeus aos meus colegas de trabalho. Lágrimas, soluços, declarações, todos os elementos melodramáticos estavam presentes neste roteiro. Mas apesar de nao ter caído ainda a ficha, nada disso era ficção. Aliás, foi tudo tão verdade que pela primeira vez pude enxergar o lado positivo das despedidas: o quanto você pode ser querida e às vezes nem imagina. 
As despedidas abrem caminho para que os afetos se revelem. Isso nao é drama.  É apenas o happy end das esquetes da vida.

Um tchau muito feliz a todos!