Não quero tchu. Nem quero tcha. O que eu quero? Sossego. Já dizia o grande poeta Tim Maia e repito ipsis litteris. Tudo isso porque no fim de semana passado "consegui" (repare que está entre aspas) reviver cada minutinho arrasatado no maior estilo baiano, totalmente relax, paz e amor. O cenário não era tão glamuroso quanto as paradisíacas praias da Bahia, mas o charme único de Búzios me deu a chance de respirar por dois dias aquele ar despreocupado e sentir toda a malemolência de uma terra genuinamente bela e praiana.
Mas como já comentei aqui no blog algumas vezes, tenho sempre que contar com a variável "Murphy", principalmente nestes momentos aparentemente perfeitos demais. É claro que algum imprevisto nada agradável e muito improvável tinha que acontecer. Para resumir em uma única palavra, mais precisamente em apenas três letrinhas, o dilema da vez chama-se GPS, que tanto pode significar Global Position System, quanto Garantia de Problemas em Série.
Ficar terrivelmente gripada com direito a tosse de tuberculoso exatamente na madrugada de véspera de uma viagem para um lugar de praia foi apenas um mero detalhe. Só uma pequena amostra do que estava por vir. Vitamina C e Benalete me pareciam uma ótima solução, mas estou amargando a maldita gripe até hoje.
Mas voltando ao dilema central, o GPS definitivamente não tem a menor empatia comigo. Isso porque ter Fernandinha como co-pilota é se entregar ao significado mais literal da palavra desespero. Você acha que viajar da Gávea para Búzios em não menos que SETE HORAS só acontece em feriadão? Nãããão! Sem trânsito nenhum é absolutamente possível cometer esse suicídio se estiver confiando em mim como GPS. É isso mesmo... Eu fiz Rio - Búzios em pouco mais de sete horas num fim de semana comum e sem trânsito. Parece difícil de acreditar? Então vou te ensinar como se faz.
Primeiro tente ir para a Ponte Rio Niterói pela Linha Vermelha. Você achava que era pelo Centro?? Não, senhor. Red Line e vamo que vamo. Quando estiver na Ilha do Governador você pode se dar conta desse pequeno errinho e fazer o retorno para pegar a Linha Amarela. Yeeeeessss, Yellow Line porque não? Afinal, podendo errar mais uma vez não vai te custar nada a não ser uma leve vontade de socar compulsivamente o volante até quebrá-lo.
Agora preste atenção porque essa dica é fundamental: a Fernandinha diz que a saída da Linha Amarela para o Centro é a 90. Quando chegar bem próximo da saída 9D (veja que não é mais 90, é 9D! O zero para a cegueta aqui era na verdade a letra D!) e aparecer uma placa com o bairro CENTRO e uma seta, NÃO ENTRE! Pode seguir em frente e ir atééééééééééé a Barra da Tijuca! Mais uma vez, porque não? Afinal, a Fernandinha disse saída 90 e não 9D, então nada mais normal do que ir até o final da Linha Amarela e quem sabe voltar para a Gávea, porque não?
Ok, voltar para a Gávea é um pouco demais. Então vamos só esperar ir até a Barra para pegar a Linha Amarela toda de novo, só que dessa vez no sentido contrário porque a Fernandinha finalmente se tocou que zero não é a mesma coisa que D. E agora ela está determinada a caçar a saída para o Centro. Aliás qual era o nosso objetivo mesmo? Já me perdi.
Nada disso! Não sou tão perdida assim. Vamos pegar a saída 9D, cair finalmente no Centro e chegar a tão sonhada Ponte Rio Niterói! Mas como todos já sabem, nunca foi registrado tráfego fluente na ponte. Então, respira mais um pouco e espera. Agora me diz! Depois disso tudo você conseguiu pegar a Via Lagos? E está todo felizinho com isso? Ah então chegou a hora de nos divertir mais um pouquinho e dar uma voltinha em Magé, o que acha? O que foi? Não gostou de Magé? Pois é, eu também não, então daremos um jeito de retornar para a Via Lagos em direção a Búzios porque se você não se lembra mais este é o nosso objetivo final.
De volta à nossa estrada para o fim de semana buziano teoricamente bem relax, vamos tentar realmente apaziguar os ânimos agora e seguir em frente como se não houvesse amanhã, afinal estamos enfim no caminho certo. Aí quando você avistar uma bifurcação com uma placa gigantesca apontando uma seta para a esquerda "Rio Bonito" e outra para a direita indicando Búzios, você pensa bem e pergunta para a Fernandinha, afinal ela é o melhor GPS já desenvolvido nos últimos tempos. Então, pegue a esquerda e vamos agora dar uma voltinha por Rio Bonito. Aaaaaahhh não, mas a gente queria ir para Búzios e a diária da pousada já está paga, esqueceu? Era para chegarmos no início da tarde e talvez até já aproveitar uma praia, não se lembra? Pois é, mas já são quase dez horas da noite e a Fernandinha conseguiu confundir Rio Bonito com Búzios. Um lugar super agradável, principalmente a esta hora, com direito a alguns bêbados estranhando seu carro com olhares ameaçadores.
Mas não se preocupe! Nada que uma bandalha não resolva e te ajude a pegar a estrada de volta. E aí cansou? Agora já são onze da noite e com toda a boa vontade de Murphy, finalmente você conseguiu chegar na Orla Bardot. Você imaginava pegar uma praiana quando chegasse? Pois é, não deu. João Fernandes já está um breu. Que tal então afogar o ódio que provavelmente tomou conta do seu ser num bom destilado na Rua das Pedras? Também não deu... Não existem forças nem para o álcool.
Por isso tudo, não me venha agora querendo tchu, muito menos querendo tcha. Tenho um namorado prestes a ter um surto psicótico e preciso me desculpar e acalmar. Minha única sorte nessa tragédia toda foi ter ainda um final de semana inteiro pela frente com a certeza de estar pisando nas areias de seda das praias de Búzios. Cenário perfeito para uma reconciliação, não acha?
Mas depois dessa pequena trajetória de erros, não tenho mais a menor dúvida de que Tim Maia definitivamente conheceu e se arriscou a ir para Búzios com uma dessas Fernandinhas que estão espalhadas por aí, praticamente uma das musas inspiradoras de Murphy. Diante de tanta má sorte, a única coisa que o mestre conseguiu cantar foi: "O que eu quero? Sossego". E eu cantei tanto as sábias palavras do síndico que consegui enfim uma folga de Murphy para viver a paz do desfecho perfeito desenhado pelo céu de Búzios totalmente azul da cor do mar. Realmente, da Gávea a Búzios não há nada igual.