domingo, 26 de agosto de 2012

Achados e perdidos


Pode ter certeza! Quando uma mudança muito grande acontecer na sua vida, várias outras mudancinhas ou até revoluções (depende do seu nível de sorte) acontecerão ao mesmo tempo, talvez com diferença de dias só para te dar uma pequena folga. Mas no fim das contas, em uma semana sua vida vira do avesso e haja força para aguentar.

A imprevisibilidade da vida nos deixa sujeitos a isso mesmo. Se as transformações forem boas, a ruptura com a rotina nos dá mais chão e vontade de viver. Essa é umas das graças da vida. Mas outras mudanças muitas vezes nos colocam contra a parede como se estivessem dizendo: você vai conseguir superar? 

Parece que estamos constantemente sob teste. Precisamos ter a sabedoria suficiente para enxergar a beleza das transformações positivas e aproveitá-las sem modéstia. Por outro lado, precisamos ter muito estômago para engolir as tristezas, além de pernas fortes e ágeis para seguir em frente.

As perdas sem dúvida são os maiores embrulhos com que nos deparamos. Eles bloqueiam o estômago e tomam para si todo o ar que sobrou no pulmão. Mas o coração ainda lateja, às vezes lateja até demais num acelerado que parece querer ultrapasar o limite do seu corpo de qualquer jeito. E é isso que nos obriga a resistir. Por mais incômodo que seja, ele está apenas te mostrando que a vida não parou. Pelo contrário. Enquanto você se esforça para conseguir respirar pelos ínfimos vácuos que o embrulho esqueceu de tapar, a vida corre lá fora porque o mundo e até mesmo o seu próprio mundo não se limitam ao seu corpo. Existem muitas caixinhas de surpresas fora do seu quintal, sem embrulho nenhum, livres e abertas para você respirar melhor.

Mas e a minha perda? Aonde ela se encaixa nesse raciocínio anatômico? Não é tão simples assim. Posso até recuperar meu pulmão, mas e as lembranças que não querem deixar meu pensamento? Dizem que nesse caso, a resposta é única e sinceramente, muito cruel: o tempo. 

A dor da perda de um amor por exemplo, não conta com o tempo convencional que usamos de parâmetro. É uma outra cronologia, sem lógica e totalmente feita de descompassos. Pode durar dias, anos ou uma vida inteira, como foi o caso da minha mãe. Está fora do nosso controle. Seria bom se existisse um "achados e perdidos" para os amores desiludidos.

É preciso fechar os olhos e apenas sonhar com dias melhores. Com certeza eles virão.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

No woman no cry


Eu sei que estou longe, distante demais das minhas confidências rituais. É que alguns dilemas irreversíveis tomaram conta da minha agenda.

Nada como chegar na beira dos 30 e sentir seu bolso ainda vazio e as pernas flácidas. Ok, não estou louca ainda, sei bem que dinheiro e flacidez teoricamente nada tem a ver. Teoricamente, vale ressaltar... Sim porque completar três décadas de vida correndo mais do que nunca atrás de uma ilusória carteira recheada e coxas torneadas é o que mais se vê por aí. 

O grande auge do dilema acontece quando você se dá conta de que a esteira acelerou mais do que devia. Você perdeu o timing e agora, o tempo é curto demais para se recuperar. Mas vou parar de falar entre linhas. O fato é que no momento chave de uma frustração, você há de concordar comigo que a primeira reação de um ser humano (supostamente com sentimentos) é de tristeza. Só que mesmo às vésperas dos 30 anos, continuo pulando a etapa da tristeza, da raiva, da decepção e de todos esses clichês mexicanos e vou direto, sem escalas, totalmente non stop, para a última das últimas etapas: o mais autêntico e assustador momento do chororô descontrolado.

Para confirmar minha tese, descobri outro dia conversando com meu pai, que costumo pular as etapas sentimentais desde que vi o mundo pela primeira vez. Era mais ou menos assim: eu olhava para ele e chorava. Via meu irmão e chorava. Via meus avós e chorava. Via o sol, a nuvem, o mar, um lindo cachorrinho felpudo e, adivinha? Sim, eu chorava. Inclusive, um tio doido me chamava de Fernanda Cachoeira. Não que eu tenha alguma coisa a ver com aquele indivíduo boa gente lá da CPI, mas sem querer ser dramática, já sendo, passei minha vida toda entre lágrimas e lenços de papel. Até que na contagem regressiva dos meus vinte e tantos anos, ouço dele, meu pai, o cara que me trouxe ao mundo praticamente para chorar, a seguinte frase: minha filha, diante de uma frustração alguns choram, outros simplesmente vão vender lenços de papel. 

Fiquei com a pulga atrás da orelha. Afinal, eu fui e ainda sou a maior consumidora de lenços de papel da história. Não só por causa da minha, digamos extrema sensibilidade emocional, mas também graças à rinite alérgica que não me larga há anos. Mas não importa o motivo, chegou a hora de mudar esse jogo. Não que eu queira vender lenços para consumidores top como eu, mas aprender a lidar com os problemas sem apelar para a autopiedade pode ser um bom início para entrar na maturidade dos 30 anos.

Definitivamente não vou mais chorar com as frustrações e muito menos, com cachorrinhos felpudos, mesmo que eles estejam sozinhos e abandonados. Só peço por favor, que não me venha mostrar meu extrato bancário porque aí já é golpe baixo. Afinal, toda cachoeira, mal ou bem, sempre acaba em riacho.