quarta-feira, 22 de agosto de 2012

No woman no cry


Eu sei que estou longe, distante demais das minhas confidências rituais. É que alguns dilemas irreversíveis tomaram conta da minha agenda.

Nada como chegar na beira dos 30 e sentir seu bolso ainda vazio e as pernas flácidas. Ok, não estou louca ainda, sei bem que dinheiro e flacidez teoricamente nada tem a ver. Teoricamente, vale ressaltar... Sim porque completar três décadas de vida correndo mais do que nunca atrás de uma ilusória carteira recheada e coxas torneadas é o que mais se vê por aí. 

O grande auge do dilema acontece quando você se dá conta de que a esteira acelerou mais do que devia. Você perdeu o timing e agora, o tempo é curto demais para se recuperar. Mas vou parar de falar entre linhas. O fato é que no momento chave de uma frustração, você há de concordar comigo que a primeira reação de um ser humano (supostamente com sentimentos) é de tristeza. Só que mesmo às vésperas dos 30 anos, continuo pulando a etapa da tristeza, da raiva, da decepção e de todos esses clichês mexicanos e vou direto, sem escalas, totalmente non stop, para a última das últimas etapas: o mais autêntico e assustador momento do chororô descontrolado.

Para confirmar minha tese, descobri outro dia conversando com meu pai, que costumo pular as etapas sentimentais desde que vi o mundo pela primeira vez. Era mais ou menos assim: eu olhava para ele e chorava. Via meu irmão e chorava. Via meus avós e chorava. Via o sol, a nuvem, o mar, um lindo cachorrinho felpudo e, adivinha? Sim, eu chorava. Inclusive, um tio doido me chamava de Fernanda Cachoeira. Não que eu tenha alguma coisa a ver com aquele indivíduo boa gente lá da CPI, mas sem querer ser dramática, já sendo, passei minha vida toda entre lágrimas e lenços de papel. Até que na contagem regressiva dos meus vinte e tantos anos, ouço dele, meu pai, o cara que me trouxe ao mundo praticamente para chorar, a seguinte frase: minha filha, diante de uma frustração alguns choram, outros simplesmente vão vender lenços de papel. 

Fiquei com a pulga atrás da orelha. Afinal, eu fui e ainda sou a maior consumidora de lenços de papel da história. Não só por causa da minha, digamos extrema sensibilidade emocional, mas também graças à rinite alérgica que não me larga há anos. Mas não importa o motivo, chegou a hora de mudar esse jogo. Não que eu queira vender lenços para consumidores top como eu, mas aprender a lidar com os problemas sem apelar para a autopiedade pode ser um bom início para entrar na maturidade dos 30 anos.

Definitivamente não vou mais chorar com as frustrações e muito menos, com cachorrinhos felpudos, mesmo que eles estejam sozinhos e abandonados. Só peço por favor, que não me venha mostrar meu extrato bancário porque aí já é golpe baixo. Afinal, toda cachoeira, mal ou bem, sempre acaba em riacho.