Nem baderna, nem mordaça. Durante meus 29 anos de vida sempre dormi e acordei fazendo parte de uma juventude que, desculpem o clichê atual, mas não me representava. Nós não somos os rebeldes da ditadura, nem os hippies e "bossanovistas" cantando por paz e amor dos anos 60 e 70; não somos os caras pintadas, nem os questionadores enérgicos da Legião Urbana dos anos 80 e 90. A minha juventude era apenas a geração 2000, que durante muito tempo aos olhos de nossos pais e avós carregava o estigma de enfim, "A Geração do Futuro", mas frustrações à parte, a verdade é que nos tornamos o mero e medíocre retrato do NADA. Vamos às contas: 2000 alienados, 2005 bitolados, 2010 emaconhados, 2013... Opa! Número da sorte ou azar, o que importa é que o 13º ano chegou e parece que agora sim, minha juventude mudou, cresceu, enxergou, entendeu, se engajou e lutou, com máscara ou sem, mas com um objetivo muito claro e acima de todas as outras questões que estão em jogo: o tão esperado futuro que nossos anteriores lá muito atrás já enxergavam em nós. Eles não estavam errados. Muito sábios.
A "geração do futuro" demorou mas percebeu que não é chato falar de política, que não é sujo tentar entender os trâmites do congresso, que não é perda de tempo ler o jornal todo dia e que o nosso mundinho pode ser muito maior do que apenas usar o cérebro para dar likes no Facebook e Instagram.
Coincidência ou não, o comercial do Fiat Uno lançado poucas semanas antes do início das manifestações já premeditava uma simpática convocação do povo às ruas. Mesmo que a ideia fosse chamar para torcer pelo Brasil na Copa das Confederações, a campanha publicitária de um simples carro fez ecoar o grito engasgado há 13 anos na garganta tímida dos jovens por tarifas menores de ônibus. Nem toda a "geração do futuro" tem grana para comprar um carro, mesmo que popular, mas a mensagem da campanha do Uno instigou e deu corpo caindo como uma luva à nossa indignação até então inerte por ao menos um transporte público de qualidade. O "Vem pra rua" da Fiat gerou repercussão em massa nas redes sociais e batucadas contagiantes nas manifestações. As gerações dos anos 60, 70 e tantas outras nos aplaudiram, se arrepiaram e se orgulharam da juventude que agora parece querer de verdade um futuro melhor.
Sarneys, Renans, Nicolaus, Luiz Estevãos sempre vão existir. Nós acordamos mas não somos cegos quanto a isso. Se plebiscito é apenas um truque para enfraquecer o movimento, se referendo era o melhor caminho, se quebrar tudo e tacar fogo é necessário para mudar, se precisamos acabar com a paz "blindada" dos riquinhos do Leblon para reacender as discussões, é claro que não sei. Só sei que essa juventude pela primeira vez nos meus 29 anos quer de fato ouvir e entender o que a presidente tem a dizer, debatendo seu discurso mesmo que por Facebook ou em mesas de bar, esta sim é a geração que me representa.
Os guardanapos da farra do Cabral em Paris não sairão tão cedo da nossa cabeça, assim como as falcatruas com a Delta e isso porque nossa memória ainda é muito lúcida, afinal como já dizia Renato Russo, somos tão jovens... Ler jornal, assistir e refletir sobre as opiniões dos cientistas políticos, compartilhar fatos que acrescentam, não deixar a memória esmorecer, debater no Baixo Gávea, na praia ou no metrô, não importa, o que vale é não deixar morrer a vocação de ser e representar a geração que luta pelo Brasil do futuro.
A farra do Cabral em Paris devidamente registrada e memorizada |