Ela veio na minha direção, me encarou bem fundo e disse: "não chore, minha princesa. Eu preciso trabalhar mas não vou demorar". O abraço em seguida foi tão apertado que pude sentir nossos corações se encostarem, se entrelaçarem. Lá ia ela, mais um dia, linda com sua clássica camisa social branca, sutilmente maior que seu corpo e entreaberta na altura do colo formando um decote despretensioso e sedutor. Simples, chique e charmosa. Era de hipnotizar qualquer um.
Nunca imaginei que fosse tão sexy ver uma arquiteta deslizando um lápis sob uma prancha de papel, envolvida por réguas de todos os formatos, grafites e compassos. Eu presenciei essa cena inúmeras vezes como um take em slow motion de Almodóvar. Um cenário essencialmente preto e branco e trilha sonora criada especialmente por Sade. A taça de vinho tinto finalizava com maestria o quadro que se pintava todos os dias na minha casa.
Olhar profundo e doçura envolvente. O carisma definitivamente era sua melhor qualidade. Impossível não amá-la só de vê-la passar. Impossível mesmo era não se sentir amado por tamanho afeto que pairava com aquele sorriso. Eu fui muito amada, assim como meu pai, meu irmão, amigos, manicures, porteiros, todos, sim, absolutamente todos os que recebiam aquele sorriso se sentiam abraçados espontaneamente como uma luz linda e gostosa que te envolve e acolhe num momento de paz.
Meu sonho era ser como minha mãe. Queria ter aquele mesmo carisma e a capacidade infinita de amar a todos, mas achava tudo isso inalcançável. Só agora que ela já não está mais aqui pude enxergar que esse amor contagiante já existe dentro de todos nós, mas vivemos como se estivesse fora da gente. Como se apenas pessoas muito especiais, quase anjos, pudessem ter essa energia maravilhosa.
Sandra Conde de fato era um anjo, mas TODOS nós somos seres divinos. Portanto, se permitam. Deixem o amor acontecer. Está mais perto do que imaginamos. Aí, bem pertinho, dentro de você.