No último sábado ela foi ao salão e gastou a vida nas mechas californianas impecavelmente produzidas pelo hairstylist mais glamuroso da vez. Pintou as unhas de preto, caprichou nas sobrancelhas e arrasou no novo corte e cor de cabelo: 100% medium hair, blondorexia total, diva máxima! Tirou até foto no Instagram do muso das tesouras. Com essa moral toda, inevitavelmente Maria Elisa pensou: é hoje!
Doce ilusão... Depois de mais uma noite fracassada, surge uma voz arrastada em plena madrugada: "um cheeseburger e um milk shake de chocolate, por favor". Era ela, sozinha, alcoolizada e com larica de nooooovo, pensou o atendente do Bob's. Solitariamente esfomeada com os olhos borrados por uma mistura desastrosa de rímel com lápis e sombra, um resto de batom vermelho no canto ressecado do lábio inferior e um blush rosa pink nas bochechas marcadas por lágrimas escorridas. Mesmo depois de todo o esforço no salão de beleza, esse já contabilizava o sétimo final de semana consecutivo que ela revivia a mesma infeliz situação. Oh vida...
Recém separada do ex futuro provável whatever marido, é mais conhecida entre as amigas por Maria Lisa em referência às suas subsequentes noitadas falidas ao menos no quesito "pegação". A cada noite de lisura, escuta o mesmo clichê: "Lisa, ninguém conhece príncipe na night e quanto mais você procurá-lo, menos irá achá-lo. O amor só aparece quando você menos espera". Oh no...
Bonita desde sempre não pode reclamar do sucesso entre os rapazes nos áureos tempos de sua juventude. Beijou muito, namorou muito, acreditou muito. Lisa tem um dilema seríssimo com a tal da esperança. Cria expectativas com tudo que ameaça prosperar na sua vida. Já tentou desacreditar do futuro, mas sempre alguém aparece para dizer que não se pode nunca perder a esperança. Oh céus...
A decepção com o término do último romance foi tão grande que parece ter encruado no seu corpo a ponto de emanar energias inviabilizadoras de amor. E o pior, no auge daquele momento divisor de águas entre "será que vou pegar alguém hoje ou não", ela sempre se lembra do conselho "o amor só acontece quando você menos espera" e decide então não esperar. Só que a não-esperança de Lisa significa se apoderar de uma fome avassaladora da comida mais junk que existir. E dá-lhe Bob's again! Oh dia...
Apesar de tantas lamúrias, Lisa ainda não desistiu. Apela para os programas mais repugnantes: micareta, rave, baile funk, festa dos encalhados no dia dos namorados. Fez novena de Santo Antônio e sempre trapaceia na simpatia do vestido de noiva grampeando seu nome cabalisticamente sete vezes porque acredita ser seu número da sorte. Até em porrada em casamento já se meteu. Na ânsia para pegar o buquê, caiu sob um espelho que se despedaçou inteiro. O sete virou o número de anos de má sorte. Que pena, o feitiço virou contra o feiticeiro. Oh azar...
Não se sabe se foi culpa do espelho, mas parece que Lisa está mesmo condenada ao encalhamento. É só fazer as contas: já foram sete cheeseburgueres devorados na calada da noite. Sete celulites a mais nos culotes. Sete prantos solitários. E nem mesmo tantos setes foram capazes de abalar Lisa, isso porque a conta total só fecha quando ela percebe que depois do Bob's ainda existem sete dias de esperança até o próximo fim de semana. Afinal, mesmo sendo futuro provável whatever, sábado à noite tudo pode mudar. Oh yeeaaahhh!!!