Um veludo negro certa vez me encantou. Foi mesmo amor à primeira vista, não apenas para mim mas de fato arrebatava olhares por onde passava. A negritude de seus pêlos era tão impactante que refutava qualquer sentido lógico ao se revelar o escuro mais reluzente da natureza. Preto que brilhava, noite ensolarada, escuridão iluminada. Um tanto de antônimos que juntos descrevem com clareza a desconcertante beleza da linda cadelinha.
A pequena canina era a prova concreta de que nos menores frascos estão realmente os melhores perfumes. A delicadeza feminina de cada músculo sinuosamente desenhado deslumbrava juízes, treinadores e leigos como eu. Uma baixinha charmosa que esbanjava sorrisos e rebolados ao desfilar. Tinha tanta vida que esta vida acabou curta, muito curta. Talvez ela fosse especial demais para essa mera dimensão terrena.
A cada dia estou mais certa de que os anjos ficam pouco tempo como matéria entre nós. Talvez tenham muitas tarefas no céu já esperando por eles e assim, temos que deixá-los partir. Certamente chegou a hora de ela voar mais alto. As nuvens serão sua nova passarela e as nossas noites nunca mais serão escuras.
Amém.