quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O rei do churrasco


Quando a turma se reunia para beber e petiscar linguiça com pão de alho, o cara era unanimidade. Tirava o corte perfeito da picanha, salgava no ponto e conquistava todos os mais variados gostos, desde os mais vampirescos aficionados por carnes suculentas até os mais ogros viciados em fatias tão tostadas quanto carvão. Definitivamente, ele era o rei do churrasco. 

Na cobertura esplendorosa do amigo rico ou na varanda milimétrica daquele prédio com 213 apartamentos por andar (defumando a vizinhança inteira), não importava. O cara pilotava como ninguém uma churrasqueira e ele sabia disso. Quando aportava em um churrasco era o primeiro a se apossar dos espetos e facões quase que bulinando-os como se fossem irresistíveis objetos de desejo. Aos poucos ia se entranhando entre os que chegaram antes na churrasqueira até conseguir dominá-la por completo. Ninguém nunca reclamou até porque... huuuummmm que carne divina...

Mas algo muito grave aconteceu. O rei do churrasco virou vegano. Deixou a barba por fazer, abandonou na garagem seu maior xodó 4x4 e investiu em uma bicicleta elétrica. Uma nova criatura, totalmente repaginada, saudável, sustentável e mais do que isso, cool. Não é mais uma questão de status, mas sim de estilo. 

Parou de chamar os garçons de "braço" e evita antigos trejeitos da malandrice carioca como as fatídicas expressões "vale um confere" e "chega mais". Comprou um óculos escuros de madeira sustentável e apostou firme nas meias coloridas combinadas com o modelo Vans que esteja em voga no momento. As bermudas jeans, seu ex-maior repúdio em matéria de moda, estrearam no seu armário. Na fase "rei do churrasco" até que já curtia um boné de vez em quando para disfarçar o cabelo despenteado, mas agora não era mais uma questão capilar e sim de estilo, então tratou de desdobrar as abas dos bonés até que ficassem as mais retas possíveis. Que style...

Também pagou uma pequena fortuna em um cachorro gringo e raríssimo. Adora quando o param na rua para perguntar qual a raça do cãozinho. É o momento-chave para pronunciar um nome incompreensível de cinco palavras em idiomas diferentes, tipo sobrenome de príncipe da família real. Ninguém entende nada, mas é aí que ele vai ao delírio. Estufa o peito e arrota que é uma mistura franco-holandesa-finlandesa, uma criação exclusiva dos antigos reis da dinastia romana.

No lugar do churrasco, uma nova paixão entrou para sua vida: arte urbana. Adora postar no instagram imagens de intervenções e não deixa passar um grafite sequer dos gêmeos, seus novos "ídalos". Ele ainda não aprendeu a falar í-dO-lo. Isso nunca vai mudar, sorry.

Apesar de vegano, sustentável e exemplar healthy lifestyle, o marmanjo ainda curte umas festolas por aí. Não é difícil achá-lo em sites de fotos das noitadas cariocas naquela linha "para ver e ser visto". É a sua maior vitrine, o tal do marketing pessoal. Ficou até amigo dos caras do site para garantir que sempre seja fotografado. Boa garoto!

No momento, ele ainda está refletindo sobre os dez mandamentos do cool guy, mas um já está oficializado, carimbado e até com firma reconhecida: quando você for abordado na balada para uma foto naquele site bacana faça o quê??? Uma careta! É sério, agrega valor! O ideal é colocar a língua pra fora, entortar um pouco a boca, arregalar bem os olhos e segurar uma garrafa de Absolut. A mensagem é fatal: estou muito doido, feliz pra caralho e posso fazer caretas à vontade para mostrar o quanto sou irreverente, sacou? 

O cool guy não mata mais boi e nem frango, mas mata os outros de vergonha alheia. Esse aí a Veja ainda não viu.