sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A Claybom congelou


Eu me lembro do dia em que Obama venceu as eleições. Eu estava à espera do metrô em San Francisco quando se espalhou a boa nova. Negros, brancos, pobres, executivos, todos unidos pela emoção da vitória. E que vitória...

Era o triunfo da esperança. O fim da era Bush, das guerras nefastas, do conservadorismo. Um abraço coletivo pela mudança. Mesmo o histórico racismo americano se esvaiu diante da nova perspectiva de governo. As diferenças não mais importavam. Enfim aquela sociedade estava livre das amarras.

Eu que nem tanta empatia tinha por aquela civilização me flagrei chorando, uma Claybom derretida. Podia até ser coisa de latina piegas, mas foi lindo ver um povo celebrando a esperança. Me rendi e deixei as lágrimas rolarem sem cerimônia. O que é que tem? Comprei cerveja e brindei até de madrugada com todo tipo de gente. A lei que proíbe beber álcool na rua parecia ter sido revogada apenas naquela noite. A nação estava em festa.

Alguns anos antes, quando Lula ganhou as eleições em 2002, também me rendi. Ver Lulalá sendo ovacionado por multidões apertou meu peito e lá estava eu toda Claybom me derretendo diante das cenas efusivas do Jornal Nacional. Mais um episódio comovente. Aaaah essa tal esperança...

Agora, cá estou eu mergulhada, pra não dizer afogada, no mar de frustração que tomou conta do país. Sem margem de erro, fui do otimismo ao desalento. Vi de perto o aparelhamento do PT na Petrobras, me enojei diante de tantos cargos entregues a Deus dará. Me surpreendi com uma sucessora autoritária que comete assédio moral quase como regra por trás das cortinas do Palácio da Alvorada. Onde foi parar a estrela que brilha, Lulalá? 

Os jornais esfregam na minha cara fotos do Lulinha paz e amor ao lado de Collor e fico aqui tentando entender onde foi que ele arrumou tantos litros de óleo de peroba, ou será que foi Claybom? Um ex-presidente todo besuntado e só mesmo um lava-jato para dissolver tamanha lambança.

Ironias a parte, a verdade é que nesse Fla x Flu o craque que hoje faz a alegria dos tricolores amanhã está vestindo a camisa rubro-negra e vice-versa. Assim caminha a humanidade e nem por isso, deixamos de ir domingo ao Maracanã torcer para o time que sou fã. Eu, torcedora do Fluminense, meus amigos botafoguenses, outros tantos flamenguistas e vascaínos, queremos gol e não porradaria. Na Copa do Mundo vibramos juntos, no Réveillon brindamos juntos, no Carnaval sambamos juntos e assim somos todos brasileiros, sem correntes de siglas partidárias. Romper nossas amizades por conta de divergências políticas é muito triste, quer dizer, é muito mais do que isso, é estarrecedor.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A certeza que fica


Estou há alguns dias abrindo e fechando a página em branco à minha frente. Ela parece me implorar por este post. Resisti até quando pude porque o imprevisível me roubou as palavras. Meu desabafo se foi junto com as lágrimas e ainda assim me sinto no dever de homenagear aqui o cão que acabo de perder.

Por vezes me lembro de Quentin Tarantino e sua visão violenta de mundo. Não sou sua admiradora, mas admito que a peculiar brutalidade de seus longas é muito verossímil. A vida é mesmo cruel. Já me dediquei à meditação, frequentei cursos e diversos caminhos em busca da paz interior, mas o sangue jorrado nas cenas de Tarantino me parece mais fiel à realidade do que a tal respiração e inspiração desse papo harebô. A verdade é que diante das injustiças não há oxigênio que preencha o pulmão. As perdas nos tiram o ar, sufocam, esmagam o coração. 

O impiedoso chicote que surrava os escravos em "Django Livre" agora está aqui maltratando meu corpo. Lembro que ao sair do cinema, ainda paralisada pela explosão selvagem de Tarantino, comentei com meu namorado que seu novo cão deveria ser homenageado com o nome do protagonista. Django, um verdadeiro guerreiro. E assim se iniciou mais uma história carregada de drama, um sinal já predestinado pelo próprio filme.

Neste paralelo de narrativas, as coincidências estão escancaradas. A luta pela sobrevivência, a garra e a entrega total ao amor. Dizem que os cães são irracionais e assim tratavam os escravos, mas para o Django personagem ou animal a mente é desprezível perto do poder do coração. Ambos passionais e que se dane o racional. Talvez este fosse o imã que tanto me conectava àquele cão.

De fato agora ele é o Django Livre, sem qualquer coleira e uma imensidão celestial para usufruir. Quem me dera que isso servisse de consolo, principalmente porque não há reprise pra amenizar a saudade. Não há cópias, refilmagens e tudo foi tão pouco e insuficiente que parece não ter passado de apenas um trailer. Porém, nesta breve história, ao menos existe algo que é infinito - o amor que construímos. Quanto a isto não há dilemas. É a certeza que fica.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Vitória


Nunca tive um bilhão de amigos, mas sempre contei com poucos e bons. Me enturmava ali com a minha patotinha e tava tudo ótimo, sem drama. Até que um dia conheci a Carol. Ela era um ano mais velha e aos 15 anos isso faz toda a diferença, afinal ela já tinha 16, merecia um puta respeito. Analisei seu visual dos pés à cabeça e vi tatuagens. Yeeeaahh, ela era rock'n roll! Que garota legal, suspirei comigo mesma. 

Aquele ar de menina descolada e independente endossava minha admiração. Ela, sim, tinha um bilhão de amigos, mas sua personalidade era tão livre que não se apegava a essa babaquice de grupinhos. Carol era do mundo. Confesso que foi um choque ver alguém tão democrática e sem preconceitos. Enquanto eu, tolinha, me importava em desmerecer os nerds, Carol arrastava os bulinados para a boate People e metia a cara nos livros com os malandros pendurados em matemática. 

De vez em quando ela aparecia com uma super bolsa Chanel e vestidos mais que grifados. Do alto do seu salto Gucci me olhava com a simplicidade de uma garotinha carioca e me animava para alguma festa na Lapa ou no Leblon, tanto faz. Morava em uma divina casa no Jardim Pernambuco e tinha um motorista à disposição, mas esse papo não colava. Carol andava é de busão, no worries. 

Era um poço de incoerência, cá entre nós, um charme. Como podia combinar em um só rosto olhos tão profundos e tristes com um sorriso sempre vibrante? Uma confusão hipnótica que tornava impossível não notá-la. Às vezes tinha uns lapsos de timidez e sua defesa era jogar o cabelo todo na cara. E não é que ficava ainda mais charmosa? 

Enquanto eu, tão óbvia como todas as adolescentes, só pensava em festas e shoppings, Carol cultuava um único sonho: um grande amor. Eu até me preocupava com vestibular e livros bacanas, nem só de futilidade eu vivia, mas pra ela o amor estava acima da carreira de medicina, das viagens pelo mundo, dos músicos que curtia. Daí entendia-se os olhos tristes. Sem um amor não haveria felicidade, não haveria vitória. Este sim seria seu maior troféu.

Agora não há mais olhos tristes. É que a vitória enfim chegou e amanhã, dia 13 de setembro, a mais romântica do colégio se casa. Parabéns Carol pelo lindo casamento que celebraremos juntas e pela filha que não podia ter outro nome senão Vitória.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O meu alien


Eu odeio o meu umbigo. É um alien gordo, largo, fundo, difícil de limpar. É uma merda. Uma vez meu namorado comentou como é raro ver um umbigo cheiroso e é verdade. Não que o meu seja fedorento, sejamos justos, mas definitivamente não exala o perfuminho de bebê do meu sabonete. Pode esfregar até com detergente, esfolar a criatura. Não tem jeito, meu caro, nunca serão! Já procurei no Google se existe alguma micro plástica ao menos pra deixá-lo mais raso. Sim, admito, eu sou uma daquelas taradas que procuram no Google até bula de remédio e receitas pra soltar o intestino. 

Mas voltando ao umbigo, existe sim uma operação para deixá-lo oval, raso e vertical, acredita nisso? Segundo aquele site, blog, sei lá que merda é aquela de Yahoo Answers, muitas mulheres frequentemente procuram um cirurgião só por conta do cobiçado umbigo vertical. Que alívio, não sou a única maluca no mundo! O problema é que tenho medinho de entrar na faca, então vamos deixar o projeto do umbigo oval para o dia em que eu perder a lucidez de vez.

O fato é que um dos super "especialistas" do Yahoo Answers explicou com toda a credibilidade de um engana trochas como eu, que alguns umbigos são fundos por conta de uma tal gordura subcutânea ao redor do monstrinho. Sabe de nada, inocente! Aquilo não tem nada de sub, na real, é uma borda de banha tão poderosa que o deixa soterrado na barriga implorando por um bilhão de abdominais infra para o coitado tentar respirar. Mas aí ele mexe com dois outros caras muito mal encarados que não me abandonam jamais: a preguiça e a larica. Uma briga sem fim, nível Israel e Palestina.

Outro dia minha terapeuta disse: "Fernanda, o mundo não gira em torno do seu próprio umbigo". Eu, comigo mesma, me lembrei do meu alien e pensei: Graças a Deus!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O último pedaço


Lá estava eu gorda e voraz me lambuzando de catupiry e camarão. Cada mordida um orgasmo. A língua salivante dava cambalhotas na boca e as celulites se reproduziam em festa. Que alegria! O objeto do crime? Um suculento e impiedoso rissole recheado da mais alta perdição que se tem notícia. 

Um caso indefensável, confesso. No entanto, euzinha aqui era a ré mais feliz do tribunal. Felicidade que sem dúvida tinha prazo de validade a vencer e eu sabia que o fim estava próximo. Os neurônios até já se esforçavam para aceitar sem muita dor que o último pedaço estava sentenciado. Era preciso otimizar cada mastigada da forma menos sofrida possível. Porém... Ah porém...

Nada como uma reviravolta num caso aparentemente óbvio. Na reta final da condenação eis que surge um cúmplice tão culpado quanto eu. Um dos homens mais cruéis e desalmados da história. Ele não só cometeu um pecado atroz quanto duplicou sua pena ao consumar o pecado do pecado. Nem Judas seria capaz de tamanha barbaridade. Não foi apenas uma traição. Foi uma emboscada.

Tudo aconteceu em segundos. Minhas mãos posicionavam o último pedaço entre os dedos trêmulos ainda não muito conformados com o fim. Ao me preparar para o ato final sorrateiramente outra mão, que definitivamente não era a minha, se materializou bem diante do meu nariz. Lá estava eu cara a cara, mano a mano, com uma cena tão insolente que desacreditei do que estava por vir. 

Foi o tempo de a ficha cair para o mais petulante dos mortais raptar o último fragmento que me restava do rissole de camarão. Ele não só cometeu uma violência contra mim como impediu o meu grand finale. Qualquer juiz mequetrefe sabe que nem em terra de bandido comete-se uma atrocidade desse nível. Era o apocalipse.

Como alguém rouba um último pedaço? Cadê a moral deste ser? Cadê a ética da humanidade? Eram as perguntas que rondavam o júri antes da sentença final. Foi o suficiente para abrandar minha pena, que como se vê, já havia sido dura demais. 

Tamanha injustiça me fez aprender na pele e no estômago a nunca dar mole com um camarão na mão, sobretudo o último. Já condenada pelo pecado da gula, ainda fui obrigada a concordar com o veredicto final dado a marteladas pelo juiz. "Fernanda, sua pecadora, que isto lhe sirva para dar mais atenção às sábias palavras do filósofo Zeca Pagodinho: camarão que dorme a onda leva". E leva mesmo...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O bagulho é doido


Um Instagram matador. Combos de vodka, mulherada, playboyzada, uma explosão de noitadas. A vida e a obra de Carlos Henrique vão muito além de casa, trabalho e Baixo Gávea. O cara desafia qualquer limite do que seria uma rotina social normal. Festa é todo dia e a rede social tá aí, claro, pra divulgar as boas do nosso camarada. São sinapses e mais sinapses do que há de mais profundo e consistente em pool parties, boat parties, mountain parties, beach parties, all shit parties. Nas legendas, um único lema: o bagulho aqui é dooooido!

Uma vida inteira feita de likes e hashtags. O bonitão não tá de bobeira. Em pouco tempo chegou a 10k seguidores! Uooooouuuuu, sente o drama, broooother! É muita "tiração" de onda! Dizem que metade é comprada, mas sinceramente, CA-GUEI! Neguinho tá seguindo? Tá dando uma moral lá nos likes? Então já é!

Mais conhecido como Brodão pelos malandrecos do Leblon e adjacências, nunca imaginou que sua fixação pelo Instagram lhe causaria problemas. Tudo porque um dia percebeu que as fotos da galera com os clássicos comentários "patronagem reunida" ou "só a diretoria" já estavam meio manjadas. O novo plano infalível seriam as selfies com caretas do tipo "sou muito crazy". Não é que a parada explodiu? Mais de mil likes por foto. Porém, como diz seu dialeto, #sóquenão. É que tamanha popularidade acabou proliferando uma imensidão de plágios em toda a internet. Que vacilação...

"Carlos Henrique está se sentindo boladão", diz o Facebook. E agora? As selfies foram tão banalizadas que, em pouco tempo, os 10k viraram 5k e assim foi ladeira abaixo. Apelou então para um aplicativo x9 que delata todos os ex-seguidores, mas se deparou com uma lista interminável de traíras. Anotou um por um e deu o troco: unfollow em geral! Qual foi da parada, irmão? Bando de comédia! Ex-seguidor é inimigo, tá ligado?! É papo de tiro, porrada e bomba! Terror e pânico! Faixa de Gaza!

A cada nova party que surgia era mais um ex-seguidor que tomava porrada, até porque papai é desembargador e aí sabe como é né? Ele só não contava com uma queda tão sinixxxtra de likes e consequentemente, uma cambada cada vez maior de comédias pra tomar pescotapa. Pô, maior esculacho com o cara.... Em poucos meses seu Instagram mais parecia uma página fantasma. Decidiu então detonar seu perfil. So late, darling... Arrumou tanto caô que os promoters passaram a vetá-lo das all shit parties.

Dizem os ex-camaradas que Brodão virou maior sujeira. Era hora então de varrer tudo pra debaixo do tapete. Sumiu das redes sociais, dos exclusives sunsets e até dos rooftops, quem diria... Não se vê mais o garotão nem ali de rolézinho pelo BB Lanches. Neguinho já tá tirando o cara até pra maluco. Vê se pode? Falam que agora ele tá metido nesses lances aí sinixxxtros de terapia, psicologia, médico de cabeça e o escambau. Mas verdade seja dita, ele avisou. Afinal, o bagulho é dooooooido, broooother!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O vício


Confesso, eu estalo dedos. Já tentei diversos truques pra me livrar da dependência, mas nada foi capaz de vencer esta luta. E olha que não me falta cartão vermelho. É que ninguém fica indiferente diante da sinfonia que componho. Já me avisaram que é feio, aflitivo, deprimente, mas não me aguento, é um fardo, um tormento. São cerca de 240 estaladas por dia, portanto dez estalos por hora. É, eu também estalo os dedos dormindo. Infelizmente o nível da doença já está bem avançado.

Nas inúmeras tentativas de rehab apelei pra tudo. Porém, o prazer daquele pá pá pá entre os ossinhos é como arrematar um gol aos 47 do segundo tempo. A comparação futebolística não é à toa. É que eu e a seleção temos um adversário em comum: a temida tensão. Por culpa dela, nestes tempos de Copa, talvez eu tenha triplicado as estaladas. É provável que até a final eu chegue à overdose de estalos, quebre os dez dedos, adquire uma artrite para o resto da vida. 

Não chego a ser uma ogra estaladora de dedos, afinal respeito os ambientes não muito propícios para tamanha "delicadeza". Jamais alguém me verá esmigalhando as mãos num jantar romântico ou numa entrevista de emprego. Eu realmente me contenho. Mas e quando rola aquela esticada na noite? Logo com ele que pensa estar acompanhado de uma donzela tão graciosa, na verdade uma maníaca obsessiva compulsiva. Pois é, dormir de conchinha, refém da abstinência de estalos por pelo menos oito horas é pior que pênaltis contra o Chile. O silêncio do quarto também não ajuda. Qualquer mini estaladinha já pode despertá-lo. Haja coração, Galvão!

Meu consolo é que me limito às mãos. Não sou daquelas taradas que contorcem ombros, pescoço e pés à procura do estalo perfeito. Umas fritadinhas ali no indicador, polegar e demais companheiros já são suficientes. Também não sou fominha, sabe aquelas pessoas que não se contentam com os próprios dedos e mendigam estalos em mãos alheias? Me tira dessa! Sei bem o limite da fronteira, não avanço territórios. 

Minhas defesas até que são bem contundentes, mas já é hora de virar o jogo. Agora só quero atirar as mãos pra cima e gritar é campeão. Expulsar toda a tensão, rezar para o Felipão e também para o Neymar. Que eles vençam este enredo, virem a Copa do avesso, sem prorrogação, como num simples e sonoro estalar de dedos.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eu mato aula


Noite sim e noite sim também eu sonho que estou matando aula. Não é exagero. No meu inconsciente sou a líder mundial do turismo escolar. Na verdade, o ambiente até que é bem variado. Mato aula no Colégio Santo Agostinho, na PUC, no curso de inglês e até em lugares que nunca estudei. Essa noite por exemplo sonhei que matava uma aula do Colégio Wakigawa. Não sei se isso que chamavam de "escola" ainda existe, mas me lembro que ali sim era o grande império internacional de matadores de aula. 

Já foram tantas noites de matanças que hoje me peguei refletindo sobre o porquê dessa fixação. Até confesso que na minha fase de estudante tive mesmo algumas fugas secretas, mas meu currículo não chegou a ser de uma homicida em série. Eram matanças espaçadas, digamos assim. Lapsos que quando aconteciam, admito, me mergulhavam num prazer inenarrável. Ao contrário de muitas amigas, eu não matava aula para aprontar coisas ilícitas, se é que vocês me entendem. A lacuna acadêmica era totalmente preenchida com horas e horas de sono. Que delícia!

Dormir à tarde depois de almoçar bife com batata-frita ao som de Chaves no SBT era pura volúpia. Quanta felicidade! Me deleitava em saber que enquanto isso todos reviravam os olhos na aula de trigonometria. Ainda assim o maior prazer vinha mesmo do espírito "ilegal" implícito em matar aula. Era uma forma maravilhosa de transgressão. Contra a lei dos pais, dos professores e dos amigos invejosos que nunca conseguiam brecha para burlar a única obrigação que tínhamos. Eu matava aula na minha própria casa, quanto luxo! Contanto que meu pai e nem meus filhos no futuro leiam esse texto, admito, com as bochechas rosadas de vergonha, que matar aula era realmente um dos meus melhores atributos.

Aposentei minha carteirinha de estudante há uns anos mas o prazer de matar aula definitivamente não abandonou meus sonhos. Trigonometria, fórmulas de química, leis da Física, está tudo lá no meu inconsciente. Aulas que não me serviram tanto para a vida, mas que alimentam uma incrível sede de transgressão. Mesmo que em fantasia.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Fly me to Paris


Da noite para o dia uma viagem a Paris. Pisquei bem os olhos enrugando cada milímetro de pálpebra. Precisava ter certeza de que tudo não passava de um sonho. É o tipo de pegadinha que meu inconsciente adora aprontar. Quis checar todas as variáveis. Lá fora, uma festa de arromba aguçava meus ouvidos, mas soava algo insano como axé ou pagode. Definitivamente uma trilha sonora que não estaria em um sonho. Minha mente não seria tão canalha assim. A realidade estava escancarada na minha fuça e no entanto, eu custava a acreditar. Falando em fuça, até o cachorro se deu conta que ninguém ali estava dormindo. Avistou meus olhos arregalados e... Opa, ela acordou! Com um salto magnífico à la Matrix, me invadiu com lambidas suculentas. É, não era mesmo um sonho. Eu realmente ia a Paris. 

Que roupa levar? A quem contar? Posso gritar? São tantas emoções mesmo, Roberto Carlos. Tarefa árdua essa de manter a compostura e me fingir de lúcida. No way! Eu precisava berrar ao mundo que estava a algumas horas da cidade luz. Esqueci das contas a pagar, dos compromissos já marcados, do espelho quebrado, da toalha molhada em cima da cama. Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem?! Não tem nada mesmo, então meu Rio de Janeiro só posso lhe dizer duas lindas palavrinhas: au revoir! 

E não me venha com meditação, respiração, enrolação. Ansiedade se afaga com uma boa garrafa de vinho na Champs-Élysées, monsieur. Mas e o frio? Quanta bobagem! A brisa parisiense nada atrapalha, na verdade aconchega e é tão gostosa que fica fácil sentir a Torre Eiffel e os lindos parques de braços abertos para nós, meros admiradores.

Tão romântico quanto Shakespeare. Cada pedacinho de Paris fez brilhar meus olhos. Acelerou a pulsação, estremeceu o corpo, fez suar frio as mãos. E foi assim, como uma adolescente e os lábios mordidos de emoção, que cantei, me encantei, me apaixonei.

Nunca foi tão prazeroso me perder em uma cidade grande. Com o namorado a tiracolo, vasculhei cada esquina, me deleitei na gastronomia, fiz pose pra foto, me travesti de francesa rica. Tanta beleza ao redor que acabamos por nos tornar mais belos e apaixonados. Naquela atmosfera, o beijo é mais beijo. O amor é mais amor.

Voltei ao Rio tão gratificada que subestimei até mesmo Frank Sinatra. Atrevida como nunca, reescrevi seu famoso refrão: fly me to Paris, dear Frank. A lua está lá e é feita de mel.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Capítulos de uma solteira


Estar solteira tem suas peculiaridades. Terminou o namoro? Desistiu daquele casinho enrolado? Não importa em qual circunstância calhou o famoso pé na bunda e menos ainda interessa quem foi o batedor oficial do pênalti. O fato é que o jogo acabou e você entrou para a entressafra. Mas não se desespere! Estar na entressafra não é necessariamente uma tragédia. Pense bem: a oferta não é tanta mas o produto valoriza que é uma beleza. Prepare-se então para incorporar a gata mais desejada do pedaço e aprender a lidar com as especulações que vêm por aí.

Na entressafra existem três capítulos tragicômicos e inevitáveis: o revival, o avulso e o link. O revival nada mais é do que o "vale a pena ver de novo" da Globo. Tá sempre lá na sessão da tarde. Você já assistiu, insistiu e desistiu mais de 378 vezes, mas depois daquele almoço, no aconchego do edredom, ar condicionado e chuvinha na janela, aaaaahhhh é bom demais, vai! É difícil mesmo resistir. O mundo te compreende, acredite. Mas aí você se lembra da porrada que tomou naquela batida de pênalti e sabiamente resolve mudar de canal. Obrigada Net pelas 153 opções do seu combo HD neste momento tão difícil.

De volta à entressafra, chegamos ao temido sábado à noite - o dia internacional da pegação, ou não. Você quer sepultar o ex, encontrar o príncipe que o destino lhe reserva ou... No ultimato fatal da carência, decide apelar para o avulso - aquele 2º capítulo que falei lá em cima. Pois é, o avulso é tragicômico por si só. Não que seja ruim ou bom, na entressafra não ligamos muito pra maniqueísmos, mas é que o avulso é desamarrado até demais. É um intruso, um tapa-buraco pra fechar de última hora o elenco da novela. Você ainda tenta enquadrar aquele alien em algum argumento do seu roteiro, mas o cara é recém-formado em agronomia, mora em Cuiabá e é cinco anos mais novo que você. É... Haja argumento.

Sobreviveu ao revival e deu um chega pra lá no avulso? Agora é hora da produção voltar à tona. As condições climáticas já favorecem, a situação econômica está ganhando fôlego e o País em peso clama pelo fim da entressafra. Ok, rolaram umas escorregadas aí nesse meio tempo, mas você continua lá, firme e forte, com a dieta em dia, armário renovado, 100% inabalável! É neste momento, como quem não quer nada, que a amiga sequelada comenta: "sabe que você tem tudo a ver com o Marcelinho? Posso apresentar vocês?". Para tudo!!! Ooooiiiiiii? Eu aqui apelando pra avulsos de Cuiabá e você só se lembra agora de um amigo bacana pra mim??? É, baby, com vocês... Eis o link!!!!

Se o tal link vai dar samba, nunca se sabe. E mesmo se a conexão falhar, um pagodinho ao menos sempre pode rolar.

terça-feira, 11 de março de 2014

Ah o Carnaval...


Após degustar uma variedade incalculável de suor alheio, ela ensaiou um bate-papo com a companheira de bloco, mas o terceiro latão de Antártica parece ter embrulhado suas palavras. No vai e vem da multidão, uma mão peluda e colenta a agarrou com determinação pela cintura interrompendo qualquer início de conversa. É que o capitão gancho, ironicamente se encantou por sua meiga fantasia de sininho. Logo se engancharam. O rala e rola que a muvuca proporcionava deu um empurrãozinho, literalmente, para ela desencalhar, aleluia! 

Aquele mix de saliva com resto de álcool banhado em suor deu um gostinho todo especial ao beijo. A química estava tão boa que ela nem reparou no capitão já mirando de rabo de olho a abelhinha faceira que vinha toda serelepe ali atrás. Salvo pelo gongo! Antes da colmeia partir, o celular da meiga sininho vibrou. Foi só o tempo de checar o WhatsApp para o malandreco se enganchar com seu novo alvo.

Apesar de tantas adversidades, seus olhos brilharam, isso porque acabara de receber a tão esperada resposta sobre o camarote bafônico da Sapucaí. Depois de todo um trabalho de convencimento e uma dose de pressão psicológica, seu amigo que é conhecido da prima do promoter do camarote quebrou um super galho e disse que tentaria uma possibilidade de incluir seu nome na grande festa. Tudo bem que o credenciamento para "vipar" na passarela do samba parece mais a imigração dos Estados Unidos, mas como estamos no berço da malandragem, para qualquer eventualidade há sempre um jeitinho. Agora sim ela estava pronta para comemorar!

Hora de abastecer o fígado, iiiiiii lá vem aquele chato com pistola de água. É bom para aliviar o calor, grita o mineirinho cheio de graça. Ela respira fundo e avista o gatinho da Barra comprando vodca lá no Zona Sul. É a salvação! Traça uma reta e vai.

- E aí, Marquinhos, não vai pro bloco?
- Vou nada... Tá rolando uma pré na cobertura de um camarada e depois geral vai chegar lá no camarote da Sapucaí.
- Opa! Você conseguiu?
- Claro né, gata... Só to bolado porque não vou poder ir nas campeãs...
- Ah, logo no melhor dia! Mas por quê?
- Punta del Este me espera, gata... Sabe como é né, não tem como passar um carnaval sem ser no Conrad.

Os amigos do condomínio Santa Mônica se entreolharam orgulhosos até que um deles questionou: Grey Goose mesmo ou essa Ciroc aqui boladona? A Ciroc tá playssom heim! Chegar lá na cob do Xande, como né? Tirando maior onda, moleeeeeeque!

De fininho ela se manda com sua modesta Antártica em mãos e faz uma breve reflexão: voltar ou não para o bloco? Sua companheira a essa altura fatalmente virou patê no mar de gente que se amontoava na Dias Ferreira. Os seguranças do Sushi Leblon já orquestravam uma força-tarefa para proteger os clientes dos perigos do mundo lá fora. Enquanto isso, as dondocas no restaurante discutiam se paravam ou não de usar Adidas depois da marca ter feito uma alusão do Brasil às popozudas de fio-dental, um verdadeiro absurdo!

A poucos metros dali, sininho esbravejava em meio a uma legião de boazudas desfilando seus dotes traseiros e bombados seminus flertando entre si. Era mesmo o apocalipse. Ela nunca desejou tanto se tornar uma daquelas dondocas desprezíveis. Seria bem menos sacrificante estar polemizando sobre a Adidas entre um gole e outro de saquê com flocos de ouro do que ser massacrada por bundas, músculos e ambulantes. Aliás, até a Ciroc boladona do Marquinhos seria menos humilhante.

Entre cotoveladas e bundadas, ela aterrissou sobrevivente na única esquina ainda sociável de todo o Leblon. Suspirou aliviada até que um Audi super tunado estacionou na sua frente. "E aí gata, partiu Sapucaí?". Lá se foi sininho feliz e desprezível bebendo uma garrafa de Ciroc nos braços de Marquinhos. Seu camarote agora estava garantido. Ah o Carnaval...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Overdose de selfie


Uma garfada e um flash. Já faz tempo que rende no Instagram os cliques das comilanças nossas de cada dia. Foto no espelho do elevador também bombou na timeline e por pouco me fez desistir de vez da rede social. Hashtags sóquenão, aboutlastnight e zilhões de outros blábláblás similares também me reviraram os olhos de tanto tédio,  um sentimento rotineiro na minha vida em tempos de busca ilimitada pela autopromoção.

A multiplicação de narcisos na tela de nossos celulares é tão over que nasceu o termo "selfie" para dar nomes aos bois. Mas a boiada é tão numerosa que já inventaram o "usie" para nomear fotos de narcisos em grupo.

Os porteiros de plantão, aqueles que não se cansam de dar bom dia e boa noite ao Facebook lideram o topo da minha lista negra. Já os Galvões Buenos que narram cada minuto do jogo do Flamengo são definitivamente a nova praga do século 21. E as frases de efeito, lições de moral ou indiretas para o ex? Essas são atemporais. Infinitas enquanto durem. Um clássico da dor de cotovelo, mas e eu com isso?

A autopromoção realmente parece ter se tornado o câncer das redes sociais, talvez porque elas tenham aberto uma enorme janela ou melhor, um palco mundo para os carentes e inseguros por natureza. Aqueles que necessitam deliberadamente de público full time cansam a beleza de si mesmos. É tão exaustivo que não há rostinho bonito que fique bem na foto depois de metralhar a timeline dos outros com sua auto-imagem. Nesse caso, a bula do Simancol é categórica: selfie pode causar entre infinitos outros males, até mesmo overdose. Na língua deles, ficaadica!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Espelho, espelho meu


Quebrei um espelho. Um efeito devastador congelou célula por célula até que a minha respiração simplesmente parou. Foram segundos de extremo terror. Então meus olhos ainda estremecidos conseguiram forças para piscar e enfim, o tico e o teco decidiram funcionar. A mensagem é quase o apocalipse: acredite ou não, são sete anos de azar. É... A ficha caiu e em seguida, as lágrimas também. Chorei, esperneei, xinguei e por fim me perguntei: e agora?

Sim, eu sou supersticiosa. Lei de Murphy é habitué na minha rotina. Me esforço para lidar com isso desde que aprendi a dirigir e me dei conta de que não adianta mudar de pista porque a do lado sempre vai andar mais rápido que a sua. Até aí tudo bem, mas sete anos já é overdose de uruca para uma só pessoa, no caso para a minha pessoa, o que é muito pior. 

Nessas horas um legítimo supersticioso corre pra internet. É preciso descobrir o que pode amenizar tanta má sorte e pra isso vale tudo, simpatia, feitiço, reza braba, vai depender do nível do seu desespero. É aquela velha história, em momentos como esse, meu caro, só o Google salva!

Depois de me entediar com infinitas receitas de répteis, plantas silvestres e sementes selvagens que apenas o preto velho ouviu falar, ponderei minha angústia: "garota, cai na real! Você vai mesmo arrumar um sapo e ficar com ele até meia-noite só por causa de um espelho quebrado?". Pois é, a razão falou mais alto, mas no fundo o efeito da superstição já estava lá, plantado e pronto para crescer dentro de mim.

Então diga-me espelho, espelho meu, precisava se quebrar todo para que eu visse meu cão ser atacado por um pastor alemão, perdesse meus óculos preferidos, brigasse com as melhores amigas, me enrolasse mais ainda com um romance perdido e ainda ganhasse de brinde uma enxaqueca enlouquecedora por dois dias? Isso para não dizer outros episódios impublicáveis aqui.

Decidi contornar a situação. Mudei o caminho do trabalho trocando o marrom imundo do Rebouças pelo azul da orla. A beleza carioca me embebedou de esplendor. Meus olhos espelharam a paz da natureza no retrovisor e nada se quebrou. Esqueci do sapo, do espelho rachado, dos momentos azarados. Apaguei a mente e segui em frente. Sem espaços para crendices. Apenas inteira, maravilhada, energizada. O Rio me curou. É contagiante. Morando aqui, espelho, espelho meu, nem preciso perguntar se existe alguém mais sortuda do que eu.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um amor e um plim plim


Era a quinta vez que ela olhava o celular para checar as ligações, SMS, WhatsApp, Facebook, todas as inimagináveis formas de contato que a tecnologia permite. O dia já escurecia sufocante e lá estavam seus dedinhos incansáveis deslizando sobre a tela do iPhone. A angústia a carregou em um embalo torturante por horas e horas, quando então, às vésperas da meia-noite, plim plim! Ecoou no quarto um som de mensagem. Opa! Só pode ser ele!!!

"Seu celular foi escolhido para concorrer a casas, carros e iPads! Basta responder SIM para entrar no sorteio". Incrédula, leu múltiplas vezes palavra por palavra até que se perguntou: me afogo no travesseiro ou me debulho em uma panela de brigadeiro? Não existe nada mais cruel do que isso. Foi uma bomba de frustração, algo comparado a Hiroshima e Nagasaki.

Dias se passaram e o celular parecia estar em coma. Dopado e inerte, porém vivo, o que ainda alimentava a expectativa incessante do filho da mãe acordar e emanar um novo plim plim. 

Atrasada como de rotina, ela saía esbaforida do mercado atolada de sacolas e foi nesse exato instante, absolutamente impossibilitada de usar qualquer uma das mãos, que o plim plim surgiu. Um respiro de alívio massageou célula por célula de seu corpo. Incrível como um simples som pode te levar do inferno de uma fila de supermercado até o nirvana de um amor supostamente correspondido. Foi mágico...

Apertou o passo até em casa para se livrar das sacolas e responder o quanto antes que topava sair para jantar. Afinal, era óbvio que o plim plim significava um convite para aquele japonês especial do Leblon. Tava na cara.

Mal adentrou a sala de casa e jogou tudo no chão, ávida e sorridente para falar com seu amor. Digitou a senha para desbloquear a tela e a mensagem pulou no visor: "responda SIM e assine o quiz para concorrer a uma super moto zero quilômetro! Não coma mosca".

Mosca ela não comeu, mas cuspiu muito marimbondo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ervilha zona sul


É quase um ritual cabalístico. Depois de inflar cada milímetro de músculo sob a vigília do personal, ela respira aliviada e mentaliza a versão fitness dos alcoólicos anônimos: mais um dia de malhação vencido, obrigada senhor!

No caminho de casa, um bate ponto no BB Lanches para dar aquele check básico na turminha que estiver dando pinta por lá. De quebra ainda pede um suco de abacaxi com hortelã que ela viu no instagram da nutricionista mais pop do momento. Pronto, vamos aos trabalhos.

Um banho de uma hora e mais duas para dar aquele levante no visú. Agora sim vai fazer bonito no Baixo Gávea. O problema é que durante essa maratona a consciência começa a oscilar: "o dia todo à base de rúcula e agora vou me estragar no chopp?". Por outro lado, o diabinho brilhantemente argumenta: "a semana toda no leg press e na cadeira adutora pra tentar tirar esse culote desgraçado. E aí, saiu? Não saiu! Então no mínimo eu mereço uma Stella gelada e um hot philadelphia do Sushimar". É... o diabinho nocauteou. Então partiu BG!

Lá foi ela em mais uma sexta-feira encontrar as mesmas amigas de sempre no mesmo lugar de sempre e ver e ser vista pelas mesmas pessoinhas de sempre. Apesar de ser mais do mesmo, sua perseverança é tão forte que chega a ser admirável, isso porque a fé inabalável de que encontrará seu príncipe naquela lisura mais do que manjada é uma chama que nunca se apaga.

Ela e sua patota são contaminadas por um comportamento claramente contraditório e o mais grave é que elas sabem disso, mas é a tal da perseverança que falei lá em cima. Nessa "ideologia", digamos assim, as adeptas insistem em frequentar os mesmos lugares porque apesar de estarem em um local onde a chance de conhecer gente nova é abaixo de zero, a simples presença das pessoinhas de sempre é essencial para que lá elas se sintam confortáveis. A mensagem é matadora: "opa, esse ambiente faz parte do meu meio social, então tá tranquilo, é aqui que eu fico".

A jogada é meio confusa mas não chega a ser radical como parece. O que elas consideram um "bom ambiente" é o mix de conhecidos com umas pinceladas de novos rostos só para dar aquela movimentada na social. Um carinha diferente daqui, umas figurinhas repetidas dali, alguns chopps na mente pra quebrar o gelo e pronto, os grupos começam naturalmente a interagir. É um tal de fulano que sabe quem é ciclano, primo de beltrano até que um deles reconhece um camarada lá daquele jogo no Maraca quando geral foi comemorar aonde mesmo??? No BG, of course. E quando o assunto é futebol, irmão, até carioca fica amigo de paulista.

E como ela e sua panela não querem saber de festa estranha com gente esquisita (ops! Gente nova eu digo), a Renatinha Bittencourt já arrumou a boa da noite.

- Amiga, vai ter festa do Marcelinho Dias. Vou botar seu nome na lista. Bora?
- Quem? O ex-peguete da Biba Fraga?
- É! Ele é primo do Beto Dias. Vai geral conhecido!
- Partiu!

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Vento ventania


Tudo que ela queria era a ajuda de um vento bem forte e longínquo para dar asas às cinzas de 2013. Tudo que ela queria era desapegar do passado e não mais esperar pelo futuro, apenas permitir que o presente fizesse jus ao nome e finalmente se tornasse um presente. E mesmo com todo o fervor da estufa carioca em que tentamos sobreviver neste verão, um vento passou, sacudiu e balançou. Parece até música baiana, eu sei, mas não me reprima, foi levantando a poeira que 2014 chegou.

No mês e no ano em que completará três décadas de dilemas, ela abriu as portas de um novo lar. Agora com mais contas a pagar e dívidas para quitar. No entanto, uma surpresa! Ela está feliz por ter que ir ao banco pagar a Light. Quem diria... A luz que não sai mais do bolso do papai chegou para iluminar o espírito do novo apê e dela mesma. É isso, o grito de independência enfim foi dado.

Que ventania é essa que está batendo? As massas de ar em 2014 estão realmente revoltas, sente só como foi o clima apenas em janeiro: nos primeiros dias do ano ela pegou conjuntivite e foi nocauteada por uma gripe. A emergência da Clínica São Vicente a fez esperar três horas por um atendimento pífio de quatro minutos e mesmo assim, nenhum sinal de irritação. What???! Não fez a viagem que tanto sonhou de ano novo com as amigas e muito menos planejou qualquer festa de celebração, porém sua angústia cativa pré-reveillon desta vez não deu as caras. Huuummmm... Ressuscitou um romance que tudo indicava ter ido pelo ralo em 2013, mas nada é tão bom quanto parece porque ainda passa longe a possibilidade disso que não sei nem o nome se tornar algo mais sério. E como ela está? Nem melhor, nem pior, apenas indiferente. Uuuuuoooouuuu!!! Teve que dar adeus à exclusividade diária e a todo o conforto que a empregada da família lhe proporcionava e ainda assim não se preocupou em aprender a cozinhar e nem mesmo a lavar roupa. Totalmente easy going! Perdeu o ritmo da academia conquistado a duras penas para o verão e ainda ganhou a bênção de mais umas 387 celulites no bumbum graças a um tormento chamado Talho Capixaba que chegou ao seu bairro para assombrar sua ilusória dieta. E você acha que agora ela está se lamentando em frente ao espelho??? Imagina... O quinto pão de chocolate do Talho já está guardado para a larica dessa tarde.

Pois bem, ainda não é o fim deste blog, mas a meteorologia prevê para este ano a evaporação dos dilemas com paranoias isoladas e pancadas de felicidade para toda a região. Mas não esqueça do filtro solar porque os ventos de 2014 sopraram as nuvens e trouxeram enfim, o sol para a todos nós iluminar.