segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Overdose de selfie


Uma garfada e um flash. Já faz tempo que rende no Instagram os cliques das comilanças nossas de cada dia. Foto no espelho do elevador também bombou na timeline e por pouco me fez desistir de vez da rede social. Hashtags sóquenão, aboutlastnight e zilhões de outros blábláblás similares também me reviraram os olhos de tanto tédio,  um sentimento rotineiro na minha vida em tempos de busca ilimitada pela autopromoção.

A multiplicação de narcisos na tela de nossos celulares é tão over que nasceu o termo "selfie" para dar nomes aos bois. Mas a boiada é tão numerosa que já inventaram o "usie" para nomear fotos de narcisos em grupo.

Os porteiros de plantão, aqueles que não se cansam de dar bom dia e boa noite ao Facebook lideram o topo da minha lista negra. Já os Galvões Buenos que narram cada minuto do jogo do Flamengo são definitivamente a nova praga do século 21. E as frases de efeito, lições de moral ou indiretas para o ex? Essas são atemporais. Infinitas enquanto durem. Um clássico da dor de cotovelo, mas e eu com isso?

A autopromoção realmente parece ter se tornado o câncer das redes sociais, talvez porque elas tenham aberto uma enorme janela ou melhor, um palco mundo para os carentes e inseguros por natureza. Aqueles que necessitam deliberadamente de público full time cansam a beleza de si mesmos. É tão exaustivo que não há rostinho bonito que fique bem na foto depois de metralhar a timeline dos outros com sua auto-imagem. Nesse caso, a bula do Simancol é categórica: selfie pode causar entre infinitos outros males, até mesmo overdose. Na língua deles, ficaadica!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Espelho, espelho meu


Quebrei um espelho. Um efeito devastador congelou célula por célula até que a minha respiração simplesmente parou. Foram segundos de extremo terror. Então meus olhos ainda estremecidos conseguiram forças para piscar e enfim, o tico e o teco decidiram funcionar. A mensagem é quase o apocalipse: acredite ou não, são sete anos de azar. É... A ficha caiu e em seguida, as lágrimas também. Chorei, esperneei, xinguei e por fim me perguntei: e agora?

Sim, eu sou supersticiosa. Lei de Murphy é habitué na minha rotina. Me esforço para lidar com isso desde que aprendi a dirigir e me dei conta de que não adianta mudar de pista porque a do lado sempre vai andar mais rápido que a sua. Até aí tudo bem, mas sete anos já é overdose de uruca para uma só pessoa, no caso para a minha pessoa, o que é muito pior. 

Nessas horas um legítimo supersticioso corre pra internet. É preciso descobrir o que pode amenizar tanta má sorte e pra isso vale tudo, simpatia, feitiço, reza braba, vai depender do nível do seu desespero. É aquela velha história, em momentos como esse, meu caro, só o Google salva!

Depois de me entediar com infinitas receitas de répteis, plantas silvestres e sementes selvagens que apenas o preto velho ouviu falar, ponderei minha angústia: "garota, cai na real! Você vai mesmo arrumar um sapo e ficar com ele até meia-noite só por causa de um espelho quebrado?". Pois é, a razão falou mais alto, mas no fundo o efeito da superstição já estava lá, plantado e pronto para crescer dentro de mim.

Então diga-me espelho, espelho meu, precisava se quebrar todo para que eu visse meu cão ser atacado por um pastor alemão, perdesse meus óculos preferidos, brigasse com as melhores amigas, me enrolasse mais ainda com um romance perdido e ainda ganhasse de brinde uma enxaqueca enlouquecedora por dois dias? Isso para não dizer outros episódios impublicáveis aqui.

Decidi contornar a situação. Mudei o caminho do trabalho trocando o marrom imundo do Rebouças pelo azul da orla. A beleza carioca me embebedou de esplendor. Meus olhos espelharam a paz da natureza no retrovisor e nada se quebrou. Esqueci do sapo, do espelho rachado, dos momentos azarados. Apaguei a mente e segui em frente. Sem espaços para crendices. Apenas inteira, maravilhada, energizada. O Rio me curou. É contagiante. Morando aqui, espelho, espelho meu, nem preciso perguntar se existe alguém mais sortuda do que eu.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um amor e um plim plim


Era a quinta vez que ela olhava o celular para checar as ligações, SMS, WhatsApp, Facebook, todas as inimagináveis formas de contato que a tecnologia permite. O dia já escurecia sufocante e lá estavam seus dedinhos incansáveis deslizando sobre a tela do iPhone. A angústia a carregou em um embalo torturante por horas e horas, quando então, às vésperas da meia-noite, plim plim! Ecoou no quarto um som de mensagem. Opa! Só pode ser ele!!!

"Seu celular foi escolhido para concorrer a casas, carros e iPads! Basta responder SIM para entrar no sorteio". Incrédula, leu múltiplas vezes palavra por palavra até que se perguntou: me afogo no travesseiro ou me debulho em uma panela de brigadeiro? Não existe nada mais cruel do que isso. Foi uma bomba de frustração, algo comparado a Hiroshima e Nagasaki.

Dias se passaram e o celular parecia estar em coma. Dopado e inerte, porém vivo, o que ainda alimentava a expectativa incessante do filho da mãe acordar e emanar um novo plim plim. 

Atrasada como de rotina, ela saía esbaforida do mercado atolada de sacolas e foi nesse exato instante, absolutamente impossibilitada de usar qualquer uma das mãos, que o plim plim surgiu. Um respiro de alívio massageou célula por célula de seu corpo. Incrível como um simples som pode te levar do inferno de uma fila de supermercado até o nirvana de um amor supostamente correspondido. Foi mágico...

Apertou o passo até em casa para se livrar das sacolas e responder o quanto antes que topava sair para jantar. Afinal, era óbvio que o plim plim significava um convite para aquele japonês especial do Leblon. Tava na cara.

Mal adentrou a sala de casa e jogou tudo no chão, ávida e sorridente para falar com seu amor. Digitou a senha para desbloquear a tela e a mensagem pulou no visor: "responda SIM e assine o quiz para concorrer a uma super moto zero quilômetro! Não coma mosca".

Mosca ela não comeu, mas cuspiu muito marimbondo.