quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Espelho, espelho meu


Quebrei um espelho. Um efeito devastador congelou célula por célula até que a minha respiração simplesmente parou. Foram segundos de extremo terror. Então meus olhos ainda estremecidos conseguiram forças para piscar e enfim, o tico e o teco decidiram funcionar. A mensagem é quase o apocalipse: acredite ou não, são sete anos de azar. É... A ficha caiu e em seguida, as lágrimas também. Chorei, esperneei, xinguei e por fim me perguntei: e agora?

Sim, eu sou supersticiosa. Lei de Murphy é habitué na minha rotina. Me esforço para lidar com isso desde que aprendi a dirigir e me dei conta de que não adianta mudar de pista porque a do lado sempre vai andar mais rápido que a sua. Até aí tudo bem, mas sete anos já é overdose de uruca para uma só pessoa, no caso para a minha pessoa, o que é muito pior. 

Nessas horas um legítimo supersticioso corre pra internet. É preciso descobrir o que pode amenizar tanta má sorte e pra isso vale tudo, simpatia, feitiço, reza braba, vai depender do nível do seu desespero. É aquela velha história, em momentos como esse, meu caro, só o Google salva!

Depois de me entediar com infinitas receitas de répteis, plantas silvestres e sementes selvagens que apenas o preto velho ouviu falar, ponderei minha angústia: "garota, cai na real! Você vai mesmo arrumar um sapo e ficar com ele até meia-noite só por causa de um espelho quebrado?". Pois é, a razão falou mais alto, mas no fundo o efeito da superstição já estava lá, plantado e pronto para crescer dentro de mim.

Então diga-me espelho, espelho meu, precisava se quebrar todo para que eu visse meu cão ser atacado por um pastor alemão, perdesse meus óculos preferidos, brigasse com as melhores amigas, me enrolasse mais ainda com um romance perdido e ainda ganhasse de brinde uma enxaqueca enlouquecedora por dois dias? Isso para não dizer outros episódios impublicáveis aqui.

Decidi contornar a situação. Mudei o caminho do trabalho trocando o marrom imundo do Rebouças pelo azul da orla. A beleza carioca me embebedou de esplendor. Meus olhos espelharam a paz da natureza no retrovisor e nada se quebrou. Esqueci do sapo, do espelho rachado, dos momentos azarados. Apaguei a mente e segui em frente. Sem espaços para crendices. Apenas inteira, maravilhada, energizada. O Rio me curou. É contagiante. Morando aqui, espelho, espelho meu, nem preciso perguntar se existe alguém mais sortuda do que eu.