quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um amor e um plim plim


Era a quinta vez que ela olhava o celular para checar as ligações, SMS, WhatsApp, Facebook, todas as inimagináveis formas de contato que a tecnologia permite. O dia já escurecia sufocante e lá estavam seus dedinhos incansáveis deslizando sobre a tela do iPhone. A angústia a carregou em um embalo torturante por horas e horas, quando então, às vésperas da meia-noite, plim plim! Ecoou no quarto um som de mensagem. Opa! Só pode ser ele!!!

"Seu celular foi escolhido para concorrer a casas, carros e iPads! Basta responder SIM para entrar no sorteio". Incrédula, leu múltiplas vezes palavra por palavra até que se perguntou: me afogo no travesseiro ou me debulho em uma panela de brigadeiro? Não existe nada mais cruel do que isso. Foi uma bomba de frustração, algo comparado a Hiroshima e Nagasaki.

Dias se passaram e o celular parecia estar em coma. Dopado e inerte, porém vivo, o que ainda alimentava a expectativa incessante do filho da mãe acordar e emanar um novo plim plim. 

Atrasada como de rotina, ela saía esbaforida do mercado atolada de sacolas e foi nesse exato instante, absolutamente impossibilitada de usar qualquer uma das mãos, que o plim plim surgiu. Um respiro de alívio massageou célula por célula de seu corpo. Incrível como um simples som pode te levar do inferno de uma fila de supermercado até o nirvana de um amor supostamente correspondido. Foi mágico...

Apertou o passo até em casa para se livrar das sacolas e responder o quanto antes que topava sair para jantar. Afinal, era óbvio que o plim plim significava um convite para aquele japonês especial do Leblon. Tava na cara.

Mal adentrou a sala de casa e jogou tudo no chão, ávida e sorridente para falar com seu amor. Digitou a senha para desbloquear a tela e a mensagem pulou no visor: "responda SIM e assine o quiz para concorrer a uma super moto zero quilômetro! Não coma mosca".

Mosca ela não comeu, mas cuspiu muito marimbondo.