segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eu mato aula


Noite sim e noite sim também eu sonho que estou matando aula. Não é exagero. No meu inconsciente sou a líder mundial do turismo escolar. Na verdade, o ambiente até que é bem variado. Mato aula no Colégio Santo Agostinho, na PUC, no curso de inglês e até em lugares que nunca estudei. Essa noite por exemplo sonhei que matava uma aula do Colégio Wakigawa. Não sei se isso que chamavam de "escola" ainda existe, mas me lembro que ali sim era o grande império internacional de matadores de aula. 

Já foram tantas noites de matanças que hoje me peguei refletindo sobre o porquê dessa fixação. Até confesso que na minha fase de estudante tive mesmo algumas fugas secretas, mas meu currículo não chegou a ser de uma homicida em série. Eram matanças espaçadas, digamos assim. Lapsos que quando aconteciam, admito, me mergulhavam num prazer inenarrável. Ao contrário de muitas amigas, eu não matava aula para aprontar coisas ilícitas, se é que vocês me entendem. A lacuna acadêmica era totalmente preenchida com horas e horas de sono. Que delícia!

Dormir à tarde depois de almoçar bife com batata-frita ao som de Chaves no SBT era pura volúpia. Quanta felicidade! Me deleitava em saber que enquanto isso todos reviravam os olhos na aula de trigonometria. Ainda assim o maior prazer vinha mesmo do espírito "ilegal" implícito em matar aula. Era uma forma maravilhosa de transgressão. Contra a lei dos pais, dos professores e dos amigos invejosos que nunca conseguiam brecha para burlar a única obrigação que tínhamos. Eu matava aula na minha própria casa, quanto luxo! Contanto que meu pai e nem meus filhos no futuro leiam esse texto, admito, com as bochechas rosadas de vergonha, que matar aula era realmente um dos meus melhores atributos.

Aposentei minha carteirinha de estudante há uns anos mas o prazer de matar aula definitivamente não abandonou meus sonhos. Trigonometria, fórmulas de química, leis da Física, está tudo lá no meu inconsciente. Aulas que não me serviram tanto para a vida, mas que alimentam uma incrível sede de transgressão. Mesmo que em fantasia.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Fly me to Paris


Da noite para o dia uma viagem a Paris. Pisquei bem os olhos enrugando cada milímetro de pálpebra. Precisava ter certeza de que tudo não passava de um sonho. É o tipo de pegadinha que meu inconsciente adora aprontar. Quis checar todas as variáveis. Lá fora, uma festa de arromba aguçava meus ouvidos, mas soava algo insano como axé ou pagode. Definitivamente uma trilha sonora que não estaria em um sonho. Minha mente não seria tão canalha assim. A realidade estava escancarada na minha fuça e no entanto, eu custava a acreditar. Falando em fuça, até o cachorro se deu conta que ninguém ali estava dormindo. Avistou meus olhos arregalados e... Opa, ela acordou! Com um salto magnífico à la Matrix, me invadiu com lambidas suculentas. É, não era mesmo um sonho. Eu realmente ia a Paris. 

Que roupa levar? A quem contar? Posso gritar? São tantas emoções mesmo, Roberto Carlos. Tarefa árdua essa de manter a compostura e me fingir de lúcida. No way! Eu precisava berrar ao mundo que estava a algumas horas da cidade luz. Esqueci das contas a pagar, dos compromissos já marcados, do espelho quebrado, da toalha molhada em cima da cama. Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem?! Não tem nada mesmo, então meu Rio de Janeiro só posso lhe dizer duas lindas palavrinhas: au revoir! 

E não me venha com meditação, respiração, enrolação. Ansiedade se afaga com uma boa garrafa de vinho na Champs-Élysées, monsieur. Mas e o frio? Quanta bobagem! A brisa parisiense nada atrapalha, na verdade aconchega e é tão gostosa que fica fácil sentir a Torre Eiffel e os lindos parques de braços abertos para nós, meros admiradores.

Tão romântico quanto Shakespeare. Cada pedacinho de Paris fez brilhar meus olhos. Acelerou a pulsação, estremeceu o corpo, fez suar frio as mãos. E foi assim, como uma adolescente e os lábios mordidos de emoção, que cantei, me encantei, me apaixonei.

Nunca foi tão prazeroso me perder em uma cidade grande. Com o namorado a tiracolo, vasculhei cada esquina, me deleitei na gastronomia, fiz pose pra foto, me travesti de francesa rica. Tanta beleza ao redor que acabamos por nos tornar mais belos e apaixonados. Naquela atmosfera, o beijo é mais beijo. O amor é mais amor.

Voltei ao Rio tão gratificada que subestimei até mesmo Frank Sinatra. Atrevida como nunca, reescrevi seu famoso refrão: fly me to Paris, dear Frank. A lua está lá e é feita de mel.