Confesso, eu estalo dedos. Já tentei diversos truques pra me livrar da dependência, mas nada foi capaz de vencer esta luta. E olha que não me falta cartão vermelho. É que ninguém fica indiferente diante da sinfonia que componho. Já me avisaram que é feio, aflitivo, deprimente, mas não me aguento, é um fardo, um tormento. São cerca de 240 estaladas por dia, portanto dez estalos por hora. É, eu também estalo os dedos dormindo. Infelizmente o nível da doença já está bem avançado.
Nas inúmeras tentativas de rehab apelei pra tudo. Porém, o prazer daquele pá pá pá entre os ossinhos é como arrematar um gol aos 47 do segundo tempo. A comparação futebolística não é à toa. É que eu e a seleção temos um adversário em comum: a temida tensão. Por culpa dela, nestes tempos de Copa, talvez eu tenha triplicado as estaladas. É provável que até a final eu chegue à overdose de estalos, quebre os dez dedos, adquire uma artrite para o resto da vida.
Não chego a ser uma ogra estaladora de dedos, afinal respeito os ambientes não muito propícios para tamanha "delicadeza". Jamais alguém me verá esmigalhando as mãos num jantar romântico ou numa entrevista de emprego. Eu realmente me contenho. Mas e quando rola aquela esticada na noite? Logo com ele que pensa estar acompanhado de uma donzela tão graciosa, na verdade uma maníaca obsessiva compulsiva. Pois é, dormir de conchinha, refém da abstinência de estalos por pelo menos oito horas é pior que pênaltis contra o Chile. O silêncio do quarto também não ajuda. Qualquer mini estaladinha já pode despertá-lo. Haja coração, Galvão!
Meu consolo é que me limito às mãos. Não sou daquelas taradas que contorcem ombros, pescoço e pés à procura do estalo perfeito. Umas fritadinhas ali no indicador, polegar e demais companheiros já são suficientes. Também não sou fominha, sabe aquelas pessoas que não se contentam com os próprios dedos e mendigam estalos em mãos alheias? Me tira dessa! Sei bem o limite da fronteira, não avanço territórios.
Minhas defesas até que são bem contundentes, mas já é hora de virar o jogo. Agora só quero atirar as mãos pra cima e gritar é campeão. Expulsar toda a tensão, rezar para o Felipão e também para o Neymar. Que eles vençam este enredo, virem a Copa do avesso, sem prorrogação, como num simples e sonoro estalar de dedos.