Nunca tive um bilhão de amigos, mas sempre contei com poucos e bons. Me enturmava ali com a minha patotinha e tava tudo ótimo, sem drama. Até que um dia conheci a Carol. Ela era um ano mais velha e aos 15 anos isso faz toda a diferença, afinal ela já tinha 16, merecia um puta respeito. Analisei seu visual dos pés à cabeça e vi tatuagens. Yeeeaahh, ela era rock'n roll! Que garota legal, suspirei comigo mesma.
Aquele ar de menina descolada e independente endossava minha admiração. Ela, sim, tinha um bilhão de amigos, mas sua personalidade era tão livre que não se apegava a essa babaquice de grupinhos. Carol era do mundo. Confesso que foi um choque ver alguém tão democrática e sem preconceitos. Enquanto eu, tolinha, me importava em desmerecer os nerds, Carol arrastava os bulinados para a boate People e metia a cara nos livros com os malandros pendurados em matemática.
De vez em quando ela aparecia com uma super bolsa Chanel e vestidos mais que grifados. Do alto do seu salto Gucci me olhava com a simplicidade de uma garotinha carioca e me animava para alguma festa na Lapa ou no Leblon, tanto faz. Morava em uma divina casa no Jardim Pernambuco e tinha um motorista à disposição, mas esse papo não colava. Carol andava é de busão, no worries.
Era um poço de incoerência, cá entre nós, um charme. Como podia combinar em um só rosto olhos tão profundos e tristes com um sorriso sempre vibrante? Uma confusão hipnótica que tornava impossível não notá-la. Às vezes tinha uns lapsos de timidez e sua defesa era jogar o cabelo todo na cara. E não é que ficava ainda mais charmosa?
Enquanto eu, tão óbvia como todas as adolescentes, só pensava em festas e shoppings, Carol cultuava um único sonho: um grande amor. Eu até me preocupava com vestibular e livros bacanas, nem só de futilidade eu vivia, mas pra ela o amor estava acima da carreira de medicina, das viagens pelo mundo, dos músicos que curtia. Daí entendia-se os olhos tristes. Sem um amor não haveria felicidade, não haveria vitória. Este sim seria seu maior troféu.
Agora não há mais olhos tristes. É que a vitória enfim chegou e amanhã, dia 13 de setembro, a mais romântica do colégio se casa. Parabéns Carol pelo lindo casamento que celebraremos juntas e pela filha que não podia ter outro nome senão Vitória.