sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A Claybom congelou


Eu me lembro do dia em que Obama venceu as eleições. Eu estava à espera do metrô em San Francisco quando se espalhou a boa nova. Negros, brancos, pobres, executivos, todos unidos pela emoção da vitória. E que vitória...

Era o triunfo da esperança. O fim da era Bush, das guerras nefastas, do conservadorismo. Um abraço coletivo pela mudança. Mesmo o histórico racismo americano se esvaiu diante da nova perspectiva de governo. As diferenças não mais importavam. Enfim aquela sociedade estava livre das amarras.

Eu que nem tanta empatia tinha por aquela civilização me flagrei chorando, uma Claybom derretida. Podia até ser coisa de latina piegas, mas foi lindo ver um povo celebrando a esperança. Me rendi e deixei as lágrimas rolarem sem cerimônia. O que é que tem? Comprei cerveja e brindei até de madrugada com todo tipo de gente. A lei que proíbe beber álcool na rua parecia ter sido revogada apenas naquela noite. A nação estava em festa.

Alguns anos antes, quando Lula ganhou as eleições em 2002, também me rendi. Ver Lulalá sendo ovacionado por multidões apertou meu peito e lá estava eu toda Claybom me derretendo diante das cenas efusivas do Jornal Nacional. Mais um episódio comovente. Aaaah essa tal esperança...

Agora, cá estou eu mergulhada, pra não dizer afogada, no mar de frustração que tomou conta do país. Sem margem de erro, fui do otimismo ao desalento. Vi de perto o aparelhamento do PT na Petrobras, me enojei diante de tantos cargos entregues a Deus dará. Me surpreendi com uma sucessora autoritária que comete assédio moral quase como regra por trás das cortinas do Palácio da Alvorada. Onde foi parar a estrela que brilha, Lulalá? 

Os jornais esfregam na minha cara fotos do Lulinha paz e amor ao lado de Collor e fico aqui tentando entender onde foi que ele arrumou tantos litros de óleo de peroba, ou será que foi Claybom? Um ex-presidente todo besuntado e só mesmo um lava-jato para dissolver tamanha lambança.

Ironias a parte, a verdade é que nesse Fla x Flu o craque que hoje faz a alegria dos tricolores amanhã está vestindo a camisa rubro-negra e vice-versa. Assim caminha a humanidade e nem por isso, deixamos de ir domingo ao Maracanã torcer para o time que sou fã. Eu, torcedora do Fluminense, meus amigos botafoguenses, outros tantos flamenguistas e vascaínos, queremos gol e não porradaria. Na Copa do Mundo vibramos juntos, no Réveillon brindamos juntos, no Carnaval sambamos juntos e assim somos todos brasileiros, sem correntes de siglas partidárias. Romper nossas amizades por conta de divergências políticas é muito triste, quer dizer, é muito mais do que isso, é estarrecedor.