quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vem mais pra cá


Quando a gente se conheceu você não me deu muita bola. Expectativas me infartavam e você pra lá e pra cá. Só que mais pra lá do que pra cá. Me ofereceu champanhe, logo vi que era das minhas. Deixou que os outros me perguntassem endereço, profissão e todo aquele blá blá blá. Da cabeceira, me observava, às vezes séria, outras sorridente. E que sorriso... Alguns goles depois e foi sorrindo mais e mais e me encantando mais e mais. Então vocês se conheceram em Trancoso? Assim você inaugurou nossa primeira de tantas conversas.

Não podia te contar que já estava apaixonada, precisava respeitar os ritos de início de relacionamento. Fazer de durona, mulher bem resolvida, exatamente como você é, sabe? Acho que a interpretação convenceu, pelo menos com seu filho colou. Mas aí você contou da sua casa em Mauá e do quanto curtiu a juventude na Maromba e em Maringá, pronto, me partiu no meio. E é conhecida da Carlinha, quem diria, parceira querida da minha avó. Não existem coincidências, eu nasci pra ser sua melhor amiga, estava muito claro pra mim.

Aí veio o seu aniversário. Aquariana como eu, um golpe fatal. A amizade predestinada estava atestada e certificada com firma reconhecida. Mas era muita afinidade, faltavam uns contrastes pra dar um tempero no nosso paladar infantil. Tudo bem, eu merecia uma adrenalina na minha alma pacata. Sua voltagem nas alturas logo me deu injeções de cafeína. Não alcancei ainda os seus 220, mas ao menos saí do zero. Foi um sacode, bom e necessário. 

Eu, tranquila, vivendo em doses homeopáticas. Você, super ativa, fazendo e acontecendo. Encontrei meu equilíbrio perfeito. Só comigo você poderia ficar meia hora presa num elevador. Sua claustrofobia não teve a menor chance perto da minha calma quase nirvana. Você sobreviveu e sei que fui o seu melhor Frontal.

A gente é assim, uma gangorra que não desequilibra nem quando uma indecisa vai ao Saara. Tantas lojas, tantas opções, só com você eu poderia sobreviver àquele mar de dilemas. E tudo se resolveu em minutos e a festa foi um sucesso e você me deu um abraço de mãe.

Depois tomei uma porrada daquelas e já dava como certa uma profunda depressão, mas nosso barco balança mas não tomba. Você me acolheu e sussurrou que tudo ficaria bem. E foi tão doce e fraterno que por um lapso senti de novo como é ter mãe. 

Agora veio a Copa e torcemos quase todos os jogos juntas, mesmo depois daquele inesquecível 7 a 1, que vimos na sua casa, abismadas, sem trocarmos uma só palavra. E estou te devendo uma aula de como passar lápis de olho e também uma ida ao teatro. Vamos organizar suas fotografias e bater perna em Nova York, tipo best friends. Não é que eu tava certa? 

Então vem mais pra cá, aceite uma taça de champanhe e vamos brindar a essa amizade de firma reconhecida. Você não é sogra, nem segunda mãe, é minha melhor amiga.